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Poemas de Paris: Entre os abajures, sob as estrelas

o doce e sonolento virar das páginas
que era como ondas quebrando suavemente na praia
invadia e anestesiava o corpo cansado

os pequenos murmúrios das respirações concentradas
o seco arrastar-se dos pés da cadeira
os passos raros, uma tosse, um espreguiçar-se

o frenético som dos teclados do computador
sua música ansiosa ou atenta
o ir e vir dos olhos sobre as páginas

o ir e vir do tempo como nunca arrastado
a delicadeza dos abajures azuis
que ficavam verdes quando acesos

as altas paredes de livros tão retamente colocados
não havia nada fora do lugar
e sobre eles aquelas árvores tão verdes contra o fundo de um céu azul

a tranquilidade e o desejo daquele céu assaltava
e havia ainda em todo aquele lugar de saber
um sopro que se elevava dos livros e encontrava

nos círculos de estrelas distribuídos pelas
várias pequenas cúpulas do teto
o lugar ideal para descansar

o mais difícil era se concentrar
o olhar atento surpreendia-se a vagar incrédulo
alguns rostos, feito os botticellianos,

pareciam ter acabado de despertar de um sonho
e eu pensava que talvez não existisse propósito melhor
para uma biblioteca

(Maura V.)

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