Ainda não sei
porque ela me perturbava tanto,
talvez eu nunca saiba.
Como ela, havia várias
mulheres sírias, com os filhos e com os véus,
com as mãos estendidas
ou segurando um copo de plástico
apenas levemente distanciado do corpo, como era o caso
da mulher de que falo.
Elas estendiam
as mãos ou o copo de plástico
querendo escondê-los.
Mas ela, talvez por me lembrar alguém,
ganhou muitas de minhas moedas, alguns de meus apertos,
várias das minhas noites.
Uma delicadeza,
os olhos cansados
e os mais doces de que me lembro.
Eu nunca soube se ela era síria,
ela não levava cartazes
como as outras.
Sempre se sentava logo na primeira escada,
de forma que saindo do metrô
eu já podia ver se ela estaria ali.
Eu não a via todos os dias, apesar de sempre fazer o
mesmo caminho, porque ela não ia todos os dias,
devia mudar de estação.
Sempre se vestia de preto,
não era nova,
mas ainda não era muito velha.
Um dia, eu a vi com um casaco diferente, púrpura e branco.
Neste dia também lhe dei uma moeda
e a achei feliz.
Outro dia soube que ela não era muito alta
quando ela passou
com o mesmo casaco, provavelmente a caminho do lugar
onde eu a via sentada todas as semanas,
o lugar onde ela permanecia quieta
esperando.
Foi a última vez que eu a vi.
(Maura V.)