Por Verônica Lazzeroni Del Cet
Escrever em redes sociais todos fazem. Atualizam o status, fazem comentários ou mesmo publicam frases de escritores conhecidos. É também nas redes sociais que cada vez mais jovens e adultos encontram páginas onde é possível ler pequenos fragmentos de textos e/ou poesias de autores não canônicos. Às vezes, por vontade própria ou por conselho de amigos e parentes acabam publicando textos autorais. As redes sociais se apresentam como mais uma possibilidade de divulgação da poesia, conto ou crônica que até então estavam “engavetados”.
Foi durante uma das corriqueiras visitas à biblioteca do colégio que Júlia Lupion, 17, começa a se interessar pela poesia. Inicialmente a sua inspiração se deu com a pintura – especificamente os quadros renascentistas – mas logo as palavras eram o que Júlia desejava expressar incansavelmente. “Um poema sobre a lua, uma canção sobre o amor que eu sentia pelo oceano, um versinho sobre as flores que me cercavam(…) e foi aí que tudo começou”, conta a entrevistada.
Com sete anos, Júlia expôs pela primeira vez uma das formas que mais lhe agrada sobre expressar o que sente. Foi no aniversário de 70 anos de sua vó, que ela recitou alguns versos e desde então não parou de se dedicar a poesia. E quanto mais conhecia sobre as rimas e versos, mas percebia que não era tão estranho assim fazer parte desse mundo, afinal, foi aos poucos que foi descobrindo sobre outros familiares que também tiverem a oportunidade de conviver com a escrita e como no caso da mãe de Júlia, publicar um livro de poesias.
“Tanto na minha família paterna quanto materna há poetas, creio que isso está no meu sangue”, diz Júlia que também contou que há pouco tempo encontrou uma caixa de seu bisavô paterno, sendo que o conteúdo da caixa eram cartas de amor e textos produzidos por ele próprio. E quanto mais Júlia enxergava a poesia como uma forma de se expressar, mais percebia que funcionava como uma forma de expor suas emoções, sem precisar desabafar com alguém.
Entretanto, a poesia pode surgir como um gosto sem ter nenhuma relação familiar. Para Bruno Andrade, 20, a poesia foi uma vontade em escrever desde que começou a ler. “A poesia me apareceu (…) um destino, talvez. Leio poesias quando preciso me encontrar, ou me destruir, denunciar, esconder”, diz Bruno.
Assim como Júlia, Bruno Andrade também percebe que é pela poesia e durante a escrita dela que consegue se encontrar. “Passeando nas entrelinhas, é possível que eu me ache em diversos lugares, os quais posso interpretar do jeito que bem quiser, pois poesia é desagarro, voo livre”, conta Bruno. Com poemas em que contemplam o assunto “morte”, relevando, assim, que por se tratar de um tema que cause receio em quem lê, ele percebe que há quem se distancie de seus poemas. “Mesmo causando desconforto ou repulsa de uns, o que ainda me move é que as palavras são fiéis, estão sempre lá, aparecendo em momentos oportunos nos quais preciso delas para seguir”, diz Bruno.
Conhecedores da oportunidade que as redes sociais podem oferecer para quem deseja publicar textos próprios, tanto Júlia quanto Bruno usam dessa ferramenta quando desejam partilhar algum poema. “Já aos meus dezesseis anos, com certa experiência, me senti confiante e comecei a publicar alguns de meus poemas nas redes sociais, Facebook e Instagram, alguns eram recitados em vídeos, e outros escritos acompanhados de alguma foto tirada por mim”, diz Júlia. Ela considerou vantajosa essa atitude, contando, inclusive, que teve uma boa primeira impressão ao expor publicamente seus poemas, mesmo sentindo-se um pouco vulnerável, uma vez que quando publica em redes sociais está ciente da possibilidade em aparecer comentários positivos e, também, negativos.
Para Bruno, o uso das redes sociais na divulgação de seus poemas começa com pequenos fragmentos, mas que desde então aparecem só ou juntos de uma imagem, mas nunca em formatos diferentes. “Solto fragmentos poéticos em redes sociais, talvez para mover as pessoas, para que elas vejam que há poesia no cotidiano e possam parar e ler algo que as façam observar as delicadezas (às vezes ferozes) que deixam passar”, conta Bruno Andrade.
Seja através de vídeos ou legendas de fotos, Júlia Lupion sempre encontrou um espaço para expor a si mesma, porém reconhece os desafios. “O que eu considerei mais desafiador ao me dedicar e escrever foi conseguir expressar meus pensamentos de maneira profunda e intensa através de simples rimas. De ter a sensibilidade de achar as palavras-chave, fazendo com que elas me definissem, como se elas fizessem parte de mim”, diz.
Além disso, Bruno não esquece de mencionar a respeito de um outro desafio; o tempo que precisa para amadurecer o poema que acabou de escrever. “Quem tem pressa, como dizem, come cru. Eu acho que quem tem pressa nem come, porque não se dedica ao momento, e isso é morte de si”, diz.
Diante das oportunidades que surgem e ressurgem com o advento das redes sociais, publicar poemas nesses canais de informação e entretenimento tem sido uma opção aos que revelam que é comum rimas e finalmente versos surgirem inesperadamente, o importante é não deixar irem embora. “Estou sempre disposto a não as deixar sair de mim, por isso escrevo no momento em que elas chegam, senão, cansadas de esperar, como se tocassem a campainha e ninguém atendesse, elas se vão, talvez para outra pessoa escrevê-las”, diz Bruno que utiliza tanto o papel, como o celular como meio de anotar todas as letras que juntas se transformam em um novo verso.
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COSTAS DE UM PASSARINHO
Talvez seja a minha sina
Algo maior do que o meu desejo
Assistir à vida lá de cima
Através do prisma das rimas
E transformar em versos o que vejo.
As palavras que eternizo na poesia
São escritas com o sangue das minhas veias
Nem tudo o que escrevo já vivi um dia
Mas tento absorver a alegria e agonia
Que existem nas experiências alheias.
Me permito invadir a mente do meu irmão
E entender o que ele sente
A ansiedade dele é a minha sofreguidão
A vida dele é a minha lição
E a evolução dele me deixa contente.
Se não consigo voar
Para ver do alto o meu caminho
Fecho os olhos para imaginar
Que estou sentado a vislumbrar
O mundo das costas de um passarinho.
Eduardo de Paula Barreto
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