São Paulo – “Ao olhar a espionagem militar em diferentes países da América Latina, o Brasil é o país mais espionado. Isso é muito interessante porque alguém imaginará ingenuamente que deve ser Venezuela ou Cuba (…), e não o Brasil. Então por que o Brasil? É que o Brasil tem uma economia maior, o Brasil é simplesmente mais importante economicamente”, disse Julian Assange, fundador do Wikileaks e perseguido pelo governo dos EUA.
Em entrevista ao blog Nocaute, do jornalista e escritor Fernando Morais, publicada na última terça-feira (10), Assange detalha o envolvimento dos Estados Unidos no golpe do impeachment, as relações do presidente Michel Temer com autoridades norte-americanas, oferecendo informações estratégicas em troca de apoio político, e a atuação conjunta em defesa dos interesses das petrolíferas estrangeiras no pré-sal brasileiro.
Perguntado sobre o que ocorreu no Brasil seria um processo de impeachment ou golpe, Assange diz que foi “algo entre as duas coisas, um golpe constitucional. Um golpe político, como pode ser chamado”, e comparou com caso semelhante acontecido em seu país de origem – Austrália – na década de 1970, quando o governo australiano também era comandado por um partido de esquerda. “Setores de negócios e de inteligência, aliados aos governos americano e britânico, se uniram e usaram um truque constitucional para derrubar o governo e instalar a oposição.”
Ele afirma que os interesses norte-americanos no Brasil envolvem assuntos políticos, econômicos e financeiros, e que a coleta de informações da parte dos serviços secretos visa a compor cenário que permita ao governo dos Estados Unidos reagir em defesa dos interesses das suas empresas.
“Pessoalmente, eu acho que dada a natureza da relação do Brasil com os Estados Unidos e considerando a intenção do departamento de Estado americano em maximizar os interesses da Chevron e ExxonMobil, estão provendo aos EUA inteligência política interna sobre o que se passa politicamente no Brasil.”
Sobre a influência dos Estados Unidos nos protestos de rua que, desde 2013, minaram a popularidade da presidenta Dilma e abriram caminho para o golpe do impeachment, Assange diz que constatou a ação de robôs que espalhavam mensagens contra o governo. “O que eu vi é que havia um grande numero de robôs online operando pra estimular esses protestos. E pensando em como são os programas americanos, vemos que essas coisas não acontecem na América Latina sem apoio americano.”
Responsável por vazamentos que comprometeram a candidatura de Hillary Clinton e, supostamente, ajudaram na vitória de Trump, Assange diz não ver tanta diferença assim entre as políticas desenvolvidas por democratas e republicanos. “Sim, o governo Trump cometerá todo tipo de crimes, mas definitivamente os mesmos crimes cometidos pelo governo da Hillary Clinton. Só que agora o processo será mais visível e as críticas internas serão muito mais intensas.”
Os vídeos com a entrevista e a transcrição da fala de Assange estão disponíveis no Nocaute. (Da RBA)
Assange, jornalismo radicalmente relevante. Vida longa a você!
Os ianques não dão ponto sem nó…