Em uma entrevista concedida à Univesp TV, a jornalista Sílvia Bittencourt, autora do livro Cozinha Venenosa, conta sua pesquisa sobre a história do jornal social-democrata Munchener Post, o pequeno veículo de esquerda que travou uma batalha solitária contra a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha.
Ao narrar a trajetória do jornal, que foi fechado logo após a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, Silvia revela os conflitos sociais e políticos muito parecidos com o Brasil de 2016. Ela fala da unificação do país após a 1ª guerra mundial, queda da monarquia e a república de Weimar.
Nesse trajeto da entrevista, vão aflorando as semelhanças entre a Alemanha pré-nazista e o Brasil 2016. Isso não significa, em hipótese alguma, que a história se repete, mas é impressionante a semelhança do comportamento humano (e de massa) nas sociedades modernas.
A partir dos 20 minutos da entrevista, Silvia fala da tolerância na sociedade alemã e dos governadores conservadores em relação ao ódio aos judeus e aos comunistas. No Brasil pós-golpe, o ódio aos petistas não só é tolerado, como aceito e incentivado pelos políticos conservadores, seus funcionários, donos de mídia e seus funcionários, contratados justamente para expor o ódio, e por parte das classes médias.
Na Alemanha, os governadores eram condescendentes com os grupos de extrema-direita. “Os governos partiam com toda força conta os grupos social-democratas, os comunistas, e favoreciam os grupos de direita. Isso ajudou demais o crescimento do partido nazista”, conta Sílvia. Basta ver as ações da polícia no Brasil nas manifestações dos grupos de esquerda a favor da democracia e nas manifestações dos camisas amarelas a favor do golpe parlamentar.
Outro ponto importante é que o governo central da Alemanha foi social-democrata um pouco antes da ascensão do nazismo. Isso é muito semelhante com a presença do PT no governo federal do Brasil antes do golpe parlamentar de 2016 e das ações implacáveis da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro.
O mais interessante das semelhanças entre o Brasil 2016 e a Alemanha pré-nazista talvez seja a disputa judicial entre Hitler e o jornal de esquerda Munchener Post, que o líder nazista chamava de “Cozinha Venenosa” e “Peste de Munique”.
Assim como o PT na Lava Jato, o jornal Munchener Post perdia todas na justiça. Ele não ganhava uma. Silvia conta que o jornal tinha um advogado, Max Hirschberg, muito respeitado na Alemanha, inclusive pelos conservadores, “mas para ele era claro que eles sempre perderiam na Justiça”.
O advogado do jornal declarou: “Eu nem ligo de perder essas brigas na Justiça porque, é claro, a justiça é totalmente parcial”. Mas ele se indignava com o silêncio sepulcral dos outros jornais liberais. Os grandes jornais se calavam diante das violências contra o jornal. “Mesmo quando o Munchener Post denunciava coisas graves, com documentos para provar, as coisas não repercutiam. Isso é o que eu fico mais encasquetada”, conta a historiadora que mora na Alemanha. Alguns brasileiros também estão encasquetados. Sobre a justiça e nazismo, veja entrevista de Laymert Garcia dos Santos.
Um outro ponto importante da entrevista foi a desunião das esquerdas durante a ascensão do nazismo. Para os historiadores, diz Silvia, esse foi o grande problema dessa época. “Os partidos de esquerda eram totalmente adversários”, conta. E isso facilitou a ascensão do nazismo. (Glauco Cortez)
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