Em Roma, como em toda a Itália, os preços são altos. Mas a sorte é que na capital há um hostel do mesmo grupo do Camping Jolly, de Veneza. Então, para economizar, fomos para uma hospedagem distante do centro de Roma, o Tiber Camping Village.
Ao chegar de trem na estação Roma Termini, fomos pedir informações de como ir ao Camping Tiber com transporte público. Pegamos uma atendente com muita má vontade. Mas muita má vontade mesmo. De início ela disse: “so far”, com cara de que teria trabalho para dar a informação.
Pensamos em responder:
“Que ‘é longe’ nós já sabemos, querida e insatisfeita. Precisamos saber como chegar lá”, mas deixa pra lá.
Enfim, esperamos as orientações que demoraram, foram difíceis. Ela olhava a tela do computador e dizia que era complicado. Mas acabou por dar uma orientação, ainda que mal dada. Não deixou de ressaltar no final que era ‘so far’.
Não confiamos na informação da moça insatisfeita com seu trabalho e fomos a uma agência de Turismo dentro da Roma Termini. Uma outra mulher complementou a informação e pudemos seguir de metrô.
Tanto drama para dar uma informação que é bem simples: pegar metrô e andar algumas estações, um trem e um ônibus urbano. É um pouco ‘so far away’ mesmo.
Vamos informar detalhadamente como chegar no Tiber Camping Village porque achamos que não tem nada mais barato e com boa relação custo benefício em Roma. Na época em que fomos, os piores hotéis centrais estavam a partir de 150 euros a diária. O Tiber saiu por R$ 32 a diária. Lembro que ao reservar o hotel achei a diferença de preço tão absurda que fui ler os comentários sobre o Camping e ver se não era uma grande furada. Não foi, é longe, mas o local é muito legal. O esquema é o mesmo do Camping Jolly, bangalôs, piscina, todo arborizado, restaurante e bar.
O único problema que tivemos no Camping Tiber foi com a secadora de rouba. Sim, porque ao levar pouca bagagem para facilitar a viagem e economizar na passagem de avião, você precisa considerar que terá de lavar sua roupa em 5 ou 6 dias de viagem. O problema é que no Tiber um ciclo da secadora é 5 Euros e ela não secou a roupa após três ciclos. Desistimos. Torramos 15 Euros e tiramos as roupas úmidas. Só para se ter uma ideia, em lavanderias de Paris, na França, é 1 Euro o ciclo. De resto, uma ótima estadia.
Vai aqui a explicação para ir ao Camping Tiber: pegue o metrô e vá até a estação chamada Flamínio, apenas 4 estações do Roma Termini. De lá, pegue um trem para Monte Belo e desça na estação Prima Porta. Você vai achar meio estranha a estação, tem que passar por um túnel com pichações e alguns equipamentos meio detonados. Normal, você sai em um local que tem parada de ônibus. Pegue o ônibus 020 e desça no ponto do Camping Tiber em 5 minutos. Você faz tudo isso com uma única passagem de 1,5 euro, que deve ser validada ao entrar no ônibus também. O tempo da estação até o Camping é de 30 a 45 minutos. Do Camping ao centro de Roma, cerca de 35 minutos.
Uma furada é você ter de chegar ou sair do Camping Tiber em um domingo ou feriado. Nesse caso, não recomendamos o Tiber. Agora, imagina o dia em que chegamos em Roma? Exatamente num domingo. Agora entendi porque a atendente estava tão irritada dando informações; era um belo domingo de sol.
O grande problema é que aos domingos e feriados, e após às 21h, não circula o ônibus urbano que passa na porta do Tiber. Metrô e trem tranquilo. Em Prima Porta tínhamos a informação de que o Camping ficava a 1,5 km, mas daí a ter certeza, ainda mais com malas…
Descobrimos depois que a caminhada é tranquila se não estiver muito cansado da viagem e sem mala. Um dia chegamos após as 21h e fomos a pé em uns 10 a 15 minutos. Mas não sabíamos disso e a situação complicou.
O bom é que surgiu uma alma boa italiana para ajudar. Um jovem que estava de bobeira por ali nos deu informação e fez mais, ligou para nós no Camping e pegou as informações necessárias.
“No domingo, tem apenas uma vã do próprio Camping, mas a próxima é só daqui a duas horas’, nos informou em inglês.
“Duas horas?” Uau. Que beleza!
Sorte nossa, seguimos com a mala em busca de um restaurante e fizemos uma grande descoberta. Vimos um restaurante a 50 metros, que parecia bem interessante no sopé de um morro, entre árvores e mesas do lado de fora com pérgulas de plantas. O restaurante se chama La Vere Grotte.
Duas Horas? Vamos aqui mesmo. Precisamos comer com calma e tem pizza. Sem dúvida, é aqui mesmo.
Uma simpática e bonita italiana nos serviu. Logo trouxe uma pequena taça de champanhe, uma garrafa de água suavemente frisante e uma fininha e crocante massa de pizza coberta com azeite, orégano e azeitonas de entrada. Perguntei o preço para recusar a entrada e ela respondeu.
“It’s present for you”.
“Ok, nossa valeu”, e já ataquei.
E desceu maravilhosamente aquela champanhe. E até a água suavemente frisante é simplesmente deliciosa. Acho que estávamos varados de fome. O La Vere Grotte tem exatamente o que o nome diz: uma gruta dentro do restaurante. Ele fica no sopé de um morro e uma parte do restaurante é uma gruta mesmo. Muito diferente. É um lugar que vale apena para quem vai ao Tiber, porque é ‘so far’.
Depois pegamos a vã e chegamos ao Camping. Lá, logo na entrada, encontramos o Rafael, um brasileiro que trabalha no Tiber, morador de Roma e é casado com uma italiana. E com ele já tiramos nossas dúvidas todas.
Para ir ao Centro de Roma, o Camping Tiber tem uma vã que te leva de manhã e traz no final da tarde por 5 Euros. Mas preferimos ficar livre de compromisso e ir de transporte público mesmo. Em meia hora você chega na estação Flaminio e é só andar pela cidade ou ir de metrô para um ponto mais distante.
“Em um dos dias que pegamos o trem para ir ao Centro, conhecemos um senhor italiano, baixinho, aposentado, perto dos 70 anos. Ele nos contou que recebe muito pouco de aposentadoria, que depois da integração europeia sua aposentadoria não vale mais nada. Quando passamos pela Itália fazia pouco tempo que tinha ocorrido o terremoto de Amatrice, na região central do pais.
“Havia dinheiro para reconstruir todas aquelas construções que caíram com o terremoto, mas o dinheiro sumiu. Os políticos roubaram. Eles ficam com tudo”, nos contou.
“No Brasil não é diferente”, respondemos.
Ela falava um inglês macarrônico, mas dava para entender quando repetia. De repente ele soltou uma mais ou menos assim: “conheceram alguma chãche?”
“Chãche”? Olhei para o lado tentando entender.
Como se diz chãche no Brasil?”
Tenta de lá, tenda dali para tentar continuar a conversa até que descobrimos que ele estava falando de igreja, ou seja, da ‘church’. Ufa. E ele nos contou que conhece nada menos do que as 400 igrejas de Roma.
Mas nossos planos incluíam uma ou outra e o Museu do Vaticano. Nos despedimos e descemos no centro de Roma. Ali é pegar o mapa e seguir andando pela cidade até não aguentar mais. No outro dia, a mesma coisa.
Uma das mais esperadas visitas é a Fontana de Trevi, que tem cerca de 26 metros de altura e 20 metros de largura, é a mais ambiciosa construção de fontes barrocas da Itália. Desde o Império Romano, o local abastecia a cidade. No século 18 tomou o formato mais parecido com o atual. Sofreu várias reformas, sendo a última em 2014 e 2015. O local foi cenário de uma das cenas mais famosas do cinema italiano. No filme La Dolce Vita, de Federico Fellini, a atriz Anita Ekberg entra na água. Passeio grátis, mas a quantidade de turista 24h por dia na fonte é alucinante. Aliás, a Itália recebe simplesmente uma fortuna diariamente com o Turismo.
Outro passeio imperdível é o Coliseu. A construção começou sob o governo do imperador Vespasiano em 72 d.C. O Coliseu é uma espécie de estádio da Roma Antiga. Calcula-se que ele recebia entre 50 mil e 80 mil espectadores. O local era usado para combates de gladiadores e espetáculos públicos, tais como encenações de batalhas, execuções e outros. Parte do palco do Coliseu foi restaurada para que o público possa ter uma ideia de como era a construção.
Ao lado do Coliseu estão as ruínas do Fórum Romano. O ingresso para os dois, Foro Romano e Coliseu, custa 12 Euros. Vale a pena. As filas são inevitáveis, mas não gigantescas. O local é uma grande área ao ar livre. Importante levar uma garrafa de água. São ruínas de inúmeras construções do principal centro da Roma Antiga. Tem uma área bem alta onde é possível tirar belas fotografias e apreciar as ruínas, que foram por séculos soterradas. Somente no século 14, o local passou a ser visto com interesse pela Igreja Católica e as escavações começaram no século 18.
Um outro passeio em Roma é o Vaticano e o Museu do Vaticano, onde está a famosa Capela Sistina. O ingresso para o Museu do Vaticano é 16 Euros inteira. E vale a pena pela quantidade de obras do Império Romano e da Grécia antiga. É algo fabuloso. Logo em uma das primeiras salas do Museu, um grande corredor cheio de estátuas, bustos, esculturas e relevos antigos, está a Gradiva, um baixo relevo romano da primeira metade século II, onde está representada uma jovem que dança e levanta a barra de seu traje. Gradiva vem do latim e significa “aquela que avança”. O nome da escultura foi atribuído num romance publicado em 1903 pelo escritor alemão Wilhelm Jensen, que teve grande influência na cultura européia, sobretudo entre os surrealistas. O romance de Jensen foi tema do famoso estudo de Freud O delírio e os sonhos na ‘Gradiva’ de W. Jensen. Freud tinha uma cópia desse relevo que hoje pode ser visto numa parede de sua sala de estudos, onde faleceu, em Londres.
Ao final, você sai dentro da Capela Sistina, que vai estar lotada de gente e com muitos guardas impedindo que as pessoas tirem fotos, mesmo sem flash.
Depois de Roma, o próximo destino é Atenas. E foi aí que relembramos novamente o ‘so far’ do Camping Tiber. Na realidade, o problema do Tiber não é que seja longe, porque tem um fácil acesso por transporte, mas é preciso se programar bem. Se o seu vôo ou trem para ir embora é muito cedo, esqueça o Tiber.
Acompanhe a situação: o nosso vôo para Atenas está programado para às 12h05 pela companhia Vueling. Tranquilo. Acordamos 7h50. Tomamos um café e saímos do Camping Tiber com malas às 8h50 para pegar o ônibus. E aqui começam nossos problemas. Chegamos no ponto e o ônibus tinha acabado de passar. Ficamos meia hora esperando o próximo que deveria passar em 15 minutos. Aí já começou a complicar. Mas tudo bem. Chegamos no Roma Termini às 10h15. O próximo ônibus para o Aeroporto estava lotado. Pegamos o das 10h30. Tranquilo. Temos uma hora.
Mas para encerrar a viagem tinha mais um italiano no meio do caminho: o motorista do ônibus. O cara era mais lerdo que uma lesma. O ônibus andava a 10 km/h na cidade. Começamos a ficar apavorados. “Vamos perder o avião”. Dúvida, incerteza. “Descemos e pegamos um táxi ou ficamos aqui?”. As malas estão no bagageiro do ônibus, o que complica mais a situação. O cara roda e roda com o ônibus a 10 km por hora até passar em uma outra estação onde sobem mais passageiros.
Olhamos a passagem e nosso check in é até as 11h20. Enfim, conseguimos sair da cidade e pegar uma avenida, mas só avistamos o Aeroporto gigantesco às 11h40. Já fiquei em pé na chegada do ônibus no Aeroporto e o lerdo do motorista não gostou e me deu um bronca.
“Seat for you security!”.
Pensei “security o escambal seu lerdo”. Só me afastei um pouco. Assim que parou desci correndo para o check-in, já bastante fora do prazo. A nossa sorte foi que o pessoal da Vueling foi muito legal e deixou a gente embarcar. Então, é uma companhia que recomendamos. Ufa! O voo demorou duas horas ao custo de 41 euros a passagem.
Próxima estadia: Atenas
Para ver o início dessa viagem e todas as cidades, vá a Um roteiro de 40 dias viajando bem barato pela Europa
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Uma pergunta, quando viajaram de aviao na Europa, despacharam mala ou foi mochila? Porque as vezes a mala custa mais que a viagem….