
Com a participação de quatro grupos em cada tema, em 2015, o Sonoros Ofícios circulou pelos estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste, enquanto Violas Brasileiras seguiu pelos estados das regiões Sul e Sudeste. Em 2016, inverte-se a ordem das apresentações para que todos os grupos concluam o circuito nacional.
Neste ano, um gênero musical essencialmente brasileiro integra o projeto que chega a Campinas, sendo identificado com o desenvolvimento da nossa cultura que circula pelo país: Sonoros Ofícios apresenta ao público os Cantos de Trabalho, prática ainda vigente em alguns estados do Brasil, concentrados, principalmente, na região Nordeste, que usa o canto como expressão musical relacionada às atividades laborais, fato social presente na cultura brasileira, tanto no ambiente rural quanto no urbano, com registros que confirmam a sua existência já no século 18.
Na maioria das vezes uma prática coletiva, os cantos de trabalho podem cumprir funções diferenciadas, de acordo com as características do trabalho ao qual estão relacionados e com os determinantes culturais e sociais de cada região ou localidade. Normalmente entende-se que o papel de aliviar o desgaste físico e aumentar a produtividade é preponderante, mas também pode servir como modo de externar o lamento e a crítica.
A abertura da programação acontece no dia 11, com apresentação das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca e Mestre Nelson Rosa, grupo formado por cinco mulheres da região de Sítio Fernandes, município de Arapiraca, na zona rural do agreste alagoano, e Nelson Rosa, mestre de coco de roda reconhecido como patrimônio vivo do estado de Alagoas. Os cantos das destaladeiras são entoados a várias vozes e com uma voz solo no improviso dos versos, geralmente tirados pelas líderes do salão, ocorrem em forma de trovas rimadas e têm como característica serem arrastados e sem acompanhamento instrumental.
No dia 12, se apresentam as Cantadeiras do Sisal e Aboiadores do Valente, mulheres que trabalharam por muito tempo nas várias etapas de produção da fibra, desde o plantio até a fabricação dos produtos derivados, e que hoje são artesãs, ofício que aprenderam a partir de projetos desenvolvidos na região com o objetivo de criar alternativas de trabalho para as mulheres que desenvolviam atividades pesadas e mal remuneradas no ciclo de produção do sisal. O repertório das cantadeiras, entoado em grupo durante a produção do artesanato, é formado por cantigas conhecidas desde a infância e outras de uma memória mais recente que tratam de questões cotidianas e fazem alusão a particularidades da produção sisaleira. O grupo é formado por Izabel, Alda, Ivamarcia, Carminha, Marisvalda e Cássia.
O Grupo Ilumiara se apresenta na programação do dia 13, sendo formado por cinco músicos da cidade de Belo Horizonte que também atuam como pesquisadores, sendo o único que não está relacionado a uma prática de tradições. Além das músicas apresentadas, o grupo traz em seu espetáculo a contextualização histórico-social dos cantos de trabalho no Brasil. Sua apresentação levará ao público um repertório de cantos de trabalho recolhidos da tradição, diretamente em suas fontes, ou a partir de registros de pesquisadores pioneiros como Mário de Andrade, Angélica Rezende e Ayres da Mata Machado Filho.
As Quebradeiras de coco babaçu encerram a programação do projeto no dia 14, com formação de oito mulheres que trabalham na quebra do coco babaçu desde a infância que exercem o importante papel de liderança na defesa e valorização do trabalho das quebradeiras, na preservação e na garantia de acesso às áreas de ocorrência da palmeira do babaçu. A prática do canto durante a quebra do coco e durante a caminhada para os babaçuais é uma experiência que trazem desde a infância, quando acompanhavam os mais velhos, geralmente mães e avós, na lida diária.
O Sonora Brasil realiza aproximadamente 480 concertos por ano, passando por mais de 130 cidades, a maioria distante dos grandes centros urbanos. A ação possibilita o contato com a qualidade e a diversidade da música brasileira e contribui para o conjunto de ações desenvolvidas pelo Sesc visando à formação de plateia. Para os músicos, propicia uma experiência ímpar para a difusão de seu trabalho.
Confira a programação completa pelo site. (Carta Campinas com informações de divulgação)
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