Por Guilherme Boneto
Quinta-feira, próximo das 18:30. Paro o meu carro para aguardar o sinal verde, enquanto observo uma mulher sorridente distribuir panfletos de campanha, talvez dela, talvez de um candidato qualquer. Ela cumprimenta a todos com quem conversa, mas não teve tempo para chegar a mim, que a teria recebido com muita cortesia embora tenha meus candidatos definidos desde o início da campanha. Às voltas, nas calçadas sem preparo para a passagem de pedestres, dezenas de pessoas se aglomeram com bandeiras invertidas em relação ao sentido dos automóveis, anunciando alguma candidatura. Vez por outra, alguém buzina e eles ovacionam.
Terça-feira, meio-dia. Um homem jovem, usando roupas formais, me aborda em outro semáforo, desta vez no centro de Valinhos. Gentil e educado, ele me pergunta se pode me entregar um panfleto de campanha – a dele, no caso. No documento havia algumas generalidades, o que é compreensível graças ao preço e ao espaço que limitam o uso do papel – como nós jornalistas sabemos bem. Mas também havia ali a indicação de um site no qual eu poderia entrar para conhecer melhor as propostas do candidato. Não ouvi carro de som com o jingle de campanha daquele homem, nem recebi por parte dele no jardim da minha casa uma infinidade de panfletos cujo recebimento me foi involuntário, e como fizeram todos os dias dezenas de outros candidatos. Me senti, acima de tudo, respeitado no meu direito de pesquisar ou não a respeito daquela candidatura. Desejei-lhe boa sorte.
Mais tarde, naquele mesmo dia, passando pelo mesmo viaduto onde eu veria a mulher sorridente dois dias depois, dezenas de pessoas acotovelavam-se para balançar as mesmas bandeiras que eu mencionei no início desta reflexão. Eu sempre tento observá-las e observar o candidato pelo qual elas trabalham. Tenho paixão pela política, e embora eu acredite – e muito – nas pessoas em quem vou votar amanhã, não considero 2016 um ano em que a política pôde ser exercida com o amor que merece. Neste ano tão difícil, embora passe longe de anular meus votos, preferi me recolher.
Ao ver aquelas pessoas balançando bandeiras e entregando panfletos, no entanto, meu sentimento era um misto. Quão fantástico seria, penso eu, se todas elas estivessem ali por acreditar de fato nas pessoas cuja cara está estampada naqueles tecidos. Seria o caso? Não sei dizer. Não é o que ouvimos falar todos os dias, mas também não é do meu feitio emitir julgamentos sobre o que não conheço de fato. Quão bom seria, não consigo evitar de pensar, se aquelas pessoas acreditassem e não estivessem ali para receber alguma coisa em troca. Estaríamos, de fato, numa festa democrática. Haveria esperança para as eleições de amanhã.
Tivemos em 2016, no entanto, um golpe parlamentar. Tivemos uma campanha eleitoral de míseros 45 dias, cuja existência passou despercebida por milhões de brasileiros. Tivemos debates eleitorais dos quais candidatos de esquerda, especialmente do combativo PSOL, foram deliberadamente excluídos, conseguindo apenas na justiça o direito de estar nos debates subsequentes. Amanhã, eleger-se-ão – para usar a mesóclise de cujo uso o presidente Michel Temer abdicou – os mesmos homens e mulheres em milhares, talvez na maioria, das cidades do país, graças ao poder dos mesmos eleitores que, ainda ontem, estavam nas ruas pedindo mudanças.
2016 foi um ano sombrio para o Brasil. As eleições municipais não poderiam ser muito diferentes do que foi o resto de todo este período obscuro. Esperamos, ou apenas torcemos, para que o domingo, 2 de outubro, seja um dia iluminado de sol a todos os brasileiros que irão votar.
One thought on “Sobre as mais desanimadoras eleições que eu vivi”