paulo-pinto-fotos-publicasPara o cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp), Aldo Fornazieri, as eleições municipais ocorridas  no domingo (2) foram devastadoras para o PT e representam forte guinada conservadora na sociedade brasileira. Particularmente em São Paulo, segundo ele, será preciso defender o legado de Fernando Haddad na prefeitura contra as “políticas de desmanche” que devem ser implementadas pelo novo prefeito, o empresário João Doria Júnior.

Aldo classifica o PT como “grande derrotado” do pleito municipal, em parte, por faltar capacidade de reação em relação às acusações de corrupção, aprofundadas com as denúncias produzidas pela da Operação Lava Jato, em parte por se somarem a isso erros cometidos pelo próprio governo do PT durante a gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff.

“O PT deixou que se criasse aquilo que deve ser o mais evitado na política, que é o ódio. Se transformou em objeto de ódio para boa parte da população. Não soube reagir em relação aos ataques da Lava Jato, reagiu de forma protocolar. Teve uma política de equívocos em relação ao governo Dilma, inclusive contribuindo para que o próprio processo do golpe do impeachment se consumasse”, analisa o professor em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Ele diz não ver capacidades “políticas, intelectuais e morais” no partido e prevê que uma reação pode demorar anos. Fornazieri afirma ainda que o fracasso não é exclusividade do PT, e se estende a toda esquerda, apesar de avanços conquistados pelo Psol, que disputa o segundo turno no Rio de Janeiro e em Belém, por exemplo.

“A própria esquerda como um todo foi afetada. O país deu uma guinada conservadora muito forte. Esse é um preço que as políticas sociais vão pagar. Nós sabemos qual é a política do campo conservador. O fato é que a população tem uma aversão a partidos e a política. Há uma crise de governança democrática. Os partidos e os governos não entregam aquilo que prometem. Isso vem provocando um processo de crescente deslegitimação dos partidos.”

Em São Paulo, o professor afirma que Doria é fruto de uma eleição rápida e que se aproveitou do desgaste da classe política, se apresentando como um antipolítico. “O que houve foi uma opção personalista de um candidato que se apresenta como aquele que quer vender quase todos os ativos da cidade”, diz.

As políticas privatistas e excludentes do novo prefeito devem se chocar com o legado produzido pela gestão Haddad, avalia ele, para quem o petista errou na comunicação, pois tinha muitas políticas públicas aprovadas por mais de metade da população. “O embate a ser feito é preservar a herança daquilo que o Haddad fez, é contra políticas de desmanche e a restauração da indústria da morte com o aumento da velocidade, contra as privatizações de equipamentos públicos, como Interlagos, Pacaembu, assim por diante. São patrimônios da cidade.” (Da RBA)