Abandono e negligência do Estado em relação à população de baixa renda e às mulheres estão intimamente ligados aos homicídios de adolescentes, aponta uma pesquisa realizada em Fortaleza no Ceará.
O contexto familiar diz muito sobre as mortes que envolvem adolescentes e revela omissões e negligências em série. O coordenador do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para o Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, Rui Aguiar, explicou que muitas das mães de adolescentes vítimas de homicídio engravidaram precocemente e abandonaram os estudos. A pesquisa revela, por exemplo, que 85% dos adolescentes que cumprem medidas de internação têm a mãe como principal responsável familiar.
“Grande parte das casas tem como renda principal a renda da mulher, que muitas vezes foram adolescentes grávidas, abandonaram a escola, perderam oportunidades e hoje têm empregos precários ou sobrevivem apenas com o Bolsa Família”, ponderou. Segundo Aguiar, a prevenção a homicídios na adolescência deve envolver investimentos robustos em políticas para as mulheres.
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As informações são do Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios, apresentada hoje (15). O colegiado reúne parlamentares da Assembleia Legislativa do Ceará, representantes do governo estadual, da prefeitura de Fortaleza e organizações da sociedade civil.
Pesquisadores visitaram bairros de várias regiões da capital cearense, sobretudo na periferia, e unidades de internação de jovens infratores e aplicaram 385 questionários entre familiares de adolescentes que foram mortos e jovens que cometeram homicídios e cumprem medidas socioeducativas. Embora as histórias sejam distintas, muitas situações se repetem entre os entrevistados. Entre os adolescentes assassinados, por exemplo, 73% foram mortos no bairro ou território onde moravam. E mais de 60% dos adolescentes que morreram tinham deixado a escola pelo menos um ano antes da morte.
“Muitas das mães ouviram os tiros que mataram seu filho”, disse a pesquisadora Camila Holanda, integrante da equipe técnica do comitê. Para ela, os pontos em comum nas trajetórias desses jovens revelam a existência de uma adolescência abandonada, inclusive pelos serviços públicos. Entre os meninos mortos, por exemplo, 74% havia deixado a escola. Entre os que cometeram assassinato, 64% estavam na mesma situação.
O relator do comitê, deputado estadual Renato Roseno (PSOL), disse que as mortes que tiveram adolescentes como vítimas ou autores subiram muito nos últimos 16 anos em Fortaleza. O Mapa da Violência revela que capital cearense tem a mais alta taxa de homicídios de crianças e adolescentes do Brasil.
“A morte não é um evento solto, mas um processo que começa no abandono: vulnerabilidade individual e familiar pela ausência de políticas públicas e pelo território onde moram. Há muitos sinais de alerta, como o acesso ao mercado de armas, ameaças que não são investigadas e a completa ausência de resposta aos homicídios existentes”, listou.
Roseno disse que o objetivo da pesquisa é entender os homicídios para além do senso comum e direcionar políticas públicas de prevenção. (Carta Campinas com informações da Agência Brasil)
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