Por Rafael Martarello
Após a ocupação no último dia 30 de junho do escritório da reitoria na Unicamp-Limeira por estudantes da Faculdade de Ciências Aplicadas, abriu-se oportunidade para expor reflexões sobre o caso, e principalmente para apontar o quão precária é a situação pela qual passa a educação brasileira.
A greve na Unicamp apresenta algumas conquistas de pautas requisitadas, e como está em fase de negociação, já se orienta para seguir novos rumos em relação aos ajustes e acontecimentos anteriormente tidos como certos. Entretanto, mais que as pautas, a greve tem relevado também a verdadeira índole de muitos docentes.
O conhecimento popular alude uma situação onde atrás das grades seguras de um portão todo cachorro late. O que está ocorrendo é bastante sugestivo a esta frase. As intimidações, ou os latidos, se dão por se apoiarem em uma estrutura carregada de autoritarismo e com medidas arbitrarias sobre todo corpo discente, sem se importar por estar passando por cima de acordos institucionais e deliberações legais. Ainda assim, tentou-se manobrar parte dos alunos para agirem de modo corpóreo contra os colegas em greve.
Além de representar uma clara afronta aos princípios da administração pública, principalmente os princípios de legalidade, impessoalidade e moralidade, este ocorrido é mais uma tentativa de privatização do que é público. Basicamente, certos docentes (servidores públicos) se põe como donos do espaço público e de seus instrumentos ao ponto de se sentirem legitimados a agirem conforme seu bel prazer. Isto só reforça a necessidade e o dever moral das medidas energéticas tomada pelo corpo discente.
Educação de mulas
Um método educacional pautado na recompensa ou castigo é semelhante ao método da cenoura e do chicote usado com mulas para mover carroças. Em verdade, isto não se configura como educação, e sim como repressão. A repressão não forma seres livres, e sim uma mentalidade servil: ou se trabalha ou se é açoitado. A dogmatização e a formação de oprimidos só beneficiam o status quo e os dominadores, não é cabível que uma instituição educacional ainda opte por este caminho e procure realizar medidas coercitivas contra um conjunto de pessoas que lutam por pautas fundamentais e coletivas.
Isto porque a Unicamp é considerada por rankings do MEC como a melhor universidade pública do Brasil e a que têm mais cursos bem avaliados, me assombra pensar a realidade de outras instituições de ensino superior.
Eu escolho abandonar esta carroça! A mão que segura o chicote que empurre esta carroça se quiser vê-la andando. É importante que a tapa saia dos olhos e o desejo de emancipação tome conta para que as “mulas” se tornem seres livres com potência de modificar e gerar infinitas formas de realidade.
Cão que ladra morde?
Acredito que sim, mas nesse caso tem um grande risco de ser o próprio rabo a ser mordido.
Rafael Martarello é bacharel em Gestão de Políticas Públicas na Unicamp e mestrando em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, também na Unicamp
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