Por Cristiane Mendes
Se mesmo em tempos atuais, com todos os avanços e conquistas, a própria deficiência, por vezes, se mostra assunto ‘proibido’, falar de sexualidade da pessoa com deficiência parece ainda mais ofensivo.
Somente há poucos anos é que a pessoa com deficiência tem mostrado sua cara para a sociedade, na tentativa de se impor como agente ativo em seus direitos e deveres. E dentro desses direitos está o de se relacionar afetivamente com o outro, seja também pessoa com deficiência ou não.
Atualmente, é muito comum encontrar uma pessoa com algum tipo de deficiência em restaurantes, bares e baladas e, certamente, ela não frequenta esses lugares apenas com intuito de consumo ou mostrar sua existência. Muitos tem claramente o desejo de conhecer alguém, como acontece com a maioria das pessoas que têm o hábito de socializar.
Contudo, quando a pessoa com deficiência parte para a paquera, propriamente dita, ela esbarra no preconceito dos que estão ao redor, não somente porque não a vêem como uma figura atraente, mas também porque se esquecem que apesar de possuir uma deficiência essa pessoa também possui uma sexualidade.
Para Dolores Affonso, idealizadora do Congresso de Acessibilidade e que possui baixa visão, a questão da sexualidade da pessoa com deficiência ainda levará um tempo para ser discutida de forma aberta e abrangente.
“A pessoa com deficiência é vista como um ser assexuado. O que muitos não entendem é que ela é uma pessoa que possui certa limitação, mas é uma pessoa como outra qualquer que possui necessidades, inclusive sexuais,” esclarece.
Para Dolores, a falta de debate é o que proporciona tal pensamento. “O deficiente intelectual e sensorial, por exemplo, sempre foram vistos como ‘anjos’ ou eternas crianças, até mesmo dentro da própria família; questões tão ácidas como a sexualidade raramente são levantadas, pois o tabu sobre o tema ainda impera na maioria dos casos.”
Para tentar minimizar essa situação, uma prática que ainda é pouco usada no Brasil é a contratação de terapeutas sexuais que tem como missão proporcionar estímulos em pessoas com deficiência mais severas, como a tetraplegia, por exemplo.
Dolores continua dizendo que embora essa seja uma profissão nova no Brasil e ainda precisa de certa regulamentação, esse profissionais são importante a medida que levam a pessoa a sentir certo prazer e se ver como ser humana em sua plenitude, apesar das limitações.
Porém para Dolores ainda temos um caminho grande a percorrer. “Nós somos ainda um sociedade muito imatura para certos temas e embora tenha acontecido alguns avanços nos últimos tempos, na outra ponta temos visto um certo ‘encaretamento’ por uma parcela da sociedade. Por isso, acredito que apenas o enfrentamento e o debate serão capazes de combater o preconceito e quebrar paradigmas,” afirma.
Ótimo artigo.