Por Luís Fernando Praga
O frio é o aconchego e um prato quente,
O frio é fashion, fino e é charmoso.
O frio é a sentença do indigente,
Ele é a dor que apaga a luz do gozo.
O frio é o fondue e o chocolate,
É a coberta e a calefação.
O frio é o critério desempate
Que arranca os fracos da competição.
O frio é o terror “lá nas quebrada”,
Porque o bandido bom é o pobre morto.
O frio acaricia a tez rosada,
De quem é mais bandido e vive solto.
O frio é a meritocracia,
Só mata e faz sofrer aos vagabundos.
O frio vende muita hipocrisia
E escancara o podre de dois mundos.
Ele chegou em tempos de loucura,
De Temer o amor antes de amar
E seleciona para a sepultura
A gente humilde, frágil e sem lar.
Mas vou pedir ao frio deste ano
Que corte a carne e solte a humanidade
Que oculta, habita em cada ser humano
Provendo a todos de dignidade.
Que nossos corações abram abrigos,
Que sejam dos sem teto as nossas casas,
Que os diferentes sejam bons amigos
E que os nossos suspiros criem asas.
Que o amor lidere os nossos zelos,
Que haja paz e gente agasalhada,
Que haja sorriso e vento nos cabelos,
E que haja vinho para a madrugada.
Que este frio congele os preconceitos
E que não faça mais pessoas mortas!
Que nasça do calor de nossos peitos
A grandeza pra abrirmos nossas portas.
Que desejemos ver outros encantos,
Que os acalantos acalmem os ais
E que os abraços sosseguem os prantos,
Daquela dor de quem sofreu demais.
Que o frio acorde essa fração omissa
E que ele vente a solidariedade,
Pra que se teça, em fios de justiça,
A manta justa pra a sociedade.
Oxalá! Que assim seja!