O jornalista Alex Solnik fez um cálculo sobre a nova base aliada do governo interino Michel Temer, o terceiro vice-presidente do PMDB a assumir o poder.
É a base aliada mais ficha suja desde a criação da Lei da Ficha Limpa.
Investigados na Lava Jato são 58 deputados federais – 47 do PP, 8 do PMDB, 1 do PSC, 1 do PTB e 1 do PTC – e nove senadores – 4 do PMDB, três do PP, 1 do PTB e 1 do PSB.
A lista dos que respondem a inquéritos e ações penais no STF é muito maior: 145 deputados federais e 25 senadores.
O partido com mais senadores investigados é o PMDB, com 10. Em segundo lugar, empatados, com quatro, PSDB e PR. O PTB tem 2 e PSC, PP, DEM e PSD tem 1 cada.
O campeão de deputados federais pendurados no STF também é o PMDB, com 50. Em segundo lugar, o PP, com 16. Em terceiro lugar, empatados, com 15, o PSDB e o PR. O PSD, apesar de ser um partido novíssimo, fundado por Gilberto Kassab aparece em quarto, com 11. A seguir, com 9, o DEM. Depois, com 8 estão empatados o PSB, o PSC e o PTB. O PRB tem 5, o PRP e o PMN, 2 e o PEN e SD têm 1 cada um.
Todos os líderes desses partidos costumavam e ainda costumam fazer os discursos mais contundentes a favor da moralização e da ética na política, responsabilizando o PT pela corrupção que predomina na política brasileira e disseram “sim” a favor do impeachment.
O atual presidente do PMDB e um dos principais articuladores do suposto governo Temer, senador Romero Jucá, já estava bem enrolado quando, anteontem, a ministra Carmen Lúcia abriu investigação contra ele e contra o presidente do Senado, Renan Calheiros, acusados, com fortes indícios de receberem, cada um, a quantia de 15 milhões de reais para aprovar emendas provisórias de interesse da indústria automobilística. Além disso, responde aos inquéritos 2116, 2963 e 3297 por crimes contra o patrimônio, crime de responsabilidade, falsidade ideológica e eleitorais e envolvimento em desvio de verbas federais em obras em Roraima. Também é investigado sobre origem e destino de 100 mil reais jogados para fora do carro por um de seus auxiliares momentos antes de ser abordado por policiais durante a campanha de 2010.
Presidente do Senado, Renan Calheiros, além da acusação citada acima, está pendurado no inquérito 2593 no qual é acusado de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso no caso dos bois de Alagoas, de 2007 para forjar uma renda com venda de gado para justificar gastos pessoais e com sua ex-amante Monica Veloso. É também investigado por desviar R$44,8 mil do Senado em verbas indenizatórias, por usar a cota de passagens aéreas do Senado para pagar viagens de três acusados de serem seus “laranjas” e de um fazendeiro suspeito de fraudar venda de gado. Também está incurso no inquérito 3589, por crime ambiental, acusado pelo MPF de pavimentar ilegalmente uma estrada de 700 metros na estação ecológica Murici que leva a uma fazenda de sua propriedade.
Ex-presidente do PMDB, o senador Valdir Raupp é réu em quatro ações penais (358, 383, 554 e 577) e responde ao inquérito 2442 por peculato, crimes eleitorais e contra o sistema financeiro e a administração pública. É acusado de ter alterado por conta própria o destino de recursos de um convênio de US$167 milhões assinado com o Banco Mundial entre 1997 e 98.
Filiada há um ano ao PMDB, depois de ter saído do PT por divergir eticamente do partido, a senadora Marta Suplicy responde à ação penal 648 por crimes da Lei de Licitações e aos inquéritos 2687, 3235, 3267 e 3544, por improbidade administrativa, formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica durante seu mandato de prefeita de São Paulo, entre 2001 e 2004.
O ex-presidente Fernando Collor, que sempre se gaba de ter sido absolvido em 1992, na verdade ainda responde por crimes daquela época. Em 2008, a PGR recomendou ao STF sua condenação na ação penal 465 por peculato (desviar ou apropriar-se de recursos públicos), corrupção passiva e falsidade ideológica. Ele e outros seis réus são acusados de receberem propinas de empresários da área de publicidade beneficiados por licitações fraudulentas entre 1990 e 92. O dinheiro era depositado em contas de “laranjas” para pagar contas pessoais, faturas de cartões de crédito e pensões a filhos de relacionamentos extraconjugais.
Cássio Cunha Lima, um dos buldogues mais agressivos contra Dilma é ex-governador da Paraíba, condenado e cassado em 2009 por distribuir 35 mil cheques a eleitores na campanha de 2006. Só conseguiu manter sua cadeira de senador, apesar de ser barrado pela Lei da Ficha Limpa porque o STF decidiu não aplicar a lei nas eleições de 2010. Responde ao inquérito 3393 por crimes da Lei de Licitações.
O veterano, ex-governador do Pará e ex-presidente do Senado, Jader Barbalho responde a seis ações penais (374, 347, 398, 498, 549 e 653) por peculato, crimes contra o sistema financeiro, falsidade ideológica, quadrilha ou bando e emprego irregular de verba pública, suspeito de integrar quadrilha que desviou mais de R$1 bilhão do Banco do Estado do Pará, da Sudam e do Ministério da Reforma Agrária. Foi barrado pela Lei da Ficha Limpa mas manteve o mandato de senador quando o STF decidiu que a lei não valeria nas eleições de 2010.
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha é réu no STF por ter sido acusado de receber ao menos US$ 5 milhões na operação de compra de navios-sonda pela Petrobrás e é alvo de mais 11 acusações pela PGR que pede ao STF, desde o ano passado, seu afastamento da presidência da Câmara, dentre as quais achaque e intimidação a dirigentes da construtora Schahin, por meio de requerimentos de convocação assinados por vários deputados de sua tropa de choque, motivados por uma disputa referente à construção de uma barragem da Cebel, além de ter tido contas secretas e suspeitas, com depósitos de US$20 milhões fechadas por banco suíço por não ter conseguido explicar sua origem.
Integrante da lista dos mais procurados pela Interpol, impedido, sob risco de ser preso, de entrar em vários países, inclusive Estados Unidos, o deputado Paulo Maluf responde a ações penais 461 e 477 e a três inquéritos (2471, 3545 e 3601) por crimes contra o sistema financeiro, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e crimes eleitorais. No inquérito 2471, ministros do STF aceitaram denúncia de que o grupo de Maluf desviou R$1 bilhão da prefeitura de São Paulo quando ele foi prefeito.
Líder do PSC e desabrido componente da tropa de choque de Eduardo Cunha, o novato André Moura, um dos mais ácidos críticos da presidente Dilma, responde aos inquéritos 3110 (crimes eleitorais), 3224 (crimes de responsabilidade e formação de quadrilha), 3221 (crimes de responsabilidade), 3204 (formação de quadrilha, improbidade administrativa), 3516 (crimes de responsabilidade) e 3594 (crimes da Lei de Licitações e Peculato).
O deputado Beto Mansur (PP-SP), que muitas vezes substitui Cunha na presidência da Câmara, responde ações penais 635 – na qual é acusado de ter submetido 46 trabalhadores, inclusive 7 crianças a trabalho análogo à condição de escravo em duas fazendas de Goiás – e 580, por crimes de responsabilidade. Também está incurso nos inquéritos 3013, 2688, 2616 e 2519 por crimes de responsabilidade e contra a administração pública.
O pastor Marco Feliciano é réu na ação penal 612 por estelionato, acusado de ter inventado um acidente no Rio de Janeiro para justificar ausência em evento no Rio Grande do Sul para o qual tinha recebido cachê, passagens e hospedagem. Também está enquadrado no inquérito 3590 no qual é suspeito de induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião. No inquérito 3646 é questionado por contratar pastores da sua igreja por seu gabinete parlamentar.
O deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade e defensor resoluto de Eduardo Cunha tem contra si a ação penal 421, por estelionato, crimes contra a fé pública e concussão. Em 2008 foi absolvido no Conselho de Ética no inquérito 2725 – desvio de recursos do BNDES – mas ainda está incruso nos inquéritos 2778 e 2639 por utilização indevida de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pela Força Sindical em cursos profissionalizantes.
O time de Temer ainda é integrado por gente como Jair Bolsonaro, deputado que, apesar de não ser investigado por corrupção, ostenta o título de o mais desprezível e sujeito a punição na corte internacional de Haia e na comissão de ética, depois de ter elogiado o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra ao vivo e a cores na votação em que apoiou o impeachment da presidente. (Alex Solnik)