Por Marcelo Gaudio
Entrevista – Com mais de 50 mil inscritos e próximo de três milhões de visualizações, o canal de curtas-metragens de terror Lenda Urbana é um sopro de criatividade no You Tube, plataforma de vídeos viciada em filhotes, pegadinhas e vloggers.
O canal, que foi criado em 31 de Outubro de 2013, já produziu entrevistas e documentários sobre o gênero terror, mas o carro chefe mesmo é a produção de curtas assustadores. Em pouco mais de dois anos de vida, o canal cresceu em público, participou do YouPIX de 2014 e tem diversos projetos em desenvolvimento com vistas de expandir as ações do grupo.
“Um dos meus planos futuros é fazer espetáculo teatral itinerante de terror, que é algo que tem pouco aqui no Brasil”, diz Daniel Pires, um dos idealizadores do Lenda Urbana, que nos concedeu uma entrevista exclusiva e revelou detalhes de bastidores e o que esperar para o canal.
Quando começaram o canal Lenda Urbana? O grupo já atuava junto antes do You Tube?
Daniel Pires: Fui eu quem tive a ideia do canal em 2013. Fiz um evento de terror no bairro Jardim Las Vegas em Santo André durante uma festa na igreja e fiz vídeos para divulgar. Assim nasceu a ideia de produzir curtas para a internet. Convidei o Leandro Botelho que já conhecia faz tempo (e fez esse evento comigo) e também chamei o Almir Bonfim e o Rafael Zuim que tinham uma produtora audiovisual e estudaram comigo na faculdade. Somos formados em audiovisual.
Nosso primeiro teaser foi lançado exatamente à meia-noite do dia 31 de outubro de 2013. Ai demos o start no canal. Foi nosso primeiro projeto juntos para o YouTube.
Alguém da equipe veio do teatro?
Daniel Pires: Esse trabalho que fazíamos antes, eu, Leandro e outras pessoas, era exatamente um grupo de teatro amador que fazia espetáculos pela cidade de Santo André, de onde nós somos. Hoje temos cerca de 10 pessoas na equipe, que inclui roteiro, produção, edição, elenco e maquiagem. Digamos que o Lenda Urbana (LU) é nosso primeiro trabalho no YouTube.
Vocês cresceram bastante, além dos curtas, o grupo faz peças de terror também? E outros trabalhos projetos?
Daniel Pires: Perto de outros canais no YouTube não somos tão grandes. Temos 50 mil inscritos, mas é pouco perto de canais considerados pequenos que tem cerca de 500 mil ou até 1 milhão de inscritos. Porém, pelo gênero, que é um tanto mal visto quando se trata de produção brasileira, estamos indo bem, creio eu. Sem contar que nosso foco é qualidade e lançamos apenas um Vídeo por mês, pois dá trabalho gravar curtas com essa qualidade. Em relação às peças de terror, esse é um dos meus planos futuros, fazer espetáculo teatral itinerante de terror, que é algo que tem pouco aqui no Brasil. Quero fazer podcast também. Por enquanto, dentro do gênero terror é só isso que produzimos, porém não vivemos disso. Cada um tem seu trabalho fora do Lenda Urbana. Eu trabalho com videorreportagens, o Almir com Pós-produção e o Leandro com marketing.
Vocês são o primeiro canal de curtas-metragens brasileiro de terror no youtube, outros surgiram, mas poucos conseguiram se firmar, qual o segredo? E como foi acompanhar o aumento das visualizações e inscritos no canal?
Daniel Pires: Nós tivemos um “boom” com a nossa websérie SPAssombrada, no início de 2015. As pessoas gostaram bastante por ser uma série de terror documental (acho que viram que além dos curtas sabemos fazer jornalismo (risos)) e começamos a ganhar “respeito” no meio.
Foi bem interessante ver nosso canal despontando. Saímos em diversos veículos grandes da mídia: Veja, Estadão, CBN, entre outros, e também ficamos conhecidos por quem gosta do gênero. Até então, tínhamos muitos curtas criticados pelo público, mas de um tempo para cá parece até que ganhamos fãs, pois estamos recebendo poucas críticas nos comentários.
Nosso meio de divulgação são as nossas redes sociais, que ora ou outra fazemos campanha pagas para impulsionar. Essa visibilidade na mídia também ajudou muito. Gravamos uma matéria com a Record que o canal ganhou cinco mil inscritos em 10 minutos (risos).
Quais suas influências? Como surgem as ideias para os vídeos?
Daniel Pires: Bom, como somos em mais pessoas, cada um tem suas influências pessoais. Vou falar das minhas. Não sou muito fã do cinema hollywoodiano, mas no terror eu confesso que gosto dos clássicos norte-americanos. Meu favorito é Cemitério Maldito. Pouco antes de começar o Lenda, eu vi alguns curtas na internet que eram exatamente a narrativa que eu queria para meus vídeos. Vi Bedfellows e The Closet do Drew Daywalt. Gosto muito dos filmes do Shyamalan. Minha vertente é espírito e zumbi. Não gosto muito do gore (filme muito sangue, escatológico)
Na produção, quem é responsável pelo roteiro? As escolhas de estilo e direção? Vocês fazem isso em conjunto ou os quatro criadores que decidem?
Daniel Pires: Quando pensamos o LU (Lenda Urbana), queríamos um canal de experimentação de terror, ou seja, todos podem executar a função que quiser (até mesmo para nos desafiarmos). Porém, por uma questão de afinidades, acabamos fazendo aquilo que nos identificamos. No caso, 90% dos roteiros são meus. Como eu escrevo e visualizo a história em minha mente, acabo dirigindo, mas na gravação tudo pode mudar e sempre queremos isso mesmo, mudanças. O Rafael Zuim me ajuda no roteiro e o Almir Bonfim fica com a fotografia e pós-produção.
Nosso próximo roteiro, por exemplo, não será meu. Foi o Almir que fez, é mais suspense psicológico. Eu gosto mesmo da fantasia, do desconhecido. Não gosto de revelar muito o ‘monstro’, que seria o ‘vilão’. Essa discrepância de narrativas fica evidente em dois curtas que gravamos no cenário do Guillermo del Toro no YouTube Space: o vídeo Traiçoeiros é roteiro do Almir. Percebe-se uma história mais real, com um assassino real. Já no vídeo Pesadelo, gravado no mesmo cenário, o roteiro é meu e você percebe a fantasia no ar. (risos)
Vocês tiveram algum problema com releituras de filmes?
Daniel Pires: Não fizemos muitos e nem tivemos problemas. Tudo é autoral. Eu quero fazer um conto chamado A Pata do Macaco que é maravilhoso. O único que fizemos com o nome do filme foi Annabelle, mas deu muito certo e tá chegando quase a 1 milhão de visitas. O outro é Poltergeist, que tem 14 mil visualizações.
Pensam em outros gêneros mais próximos do terror e horror como ficção cientifica?
Daniel Pires: Eu gosto mesmo é do terror. Outro gênero que tenho paixão é o drama, que acaba sendo inserido no contexto do terror. A partir de uma boa história dramática, é possível fazer um bom terror. Gosto muito de musical e tenho um projeto para isso dentro do terror também. Em primeira mão: vamos fazer um reality para sexta-feira 13 de maio (será uma campanha grande). Não posso falar muito ainda, mas vai envolver outros canais de terror e tem um projeto social no meio.
Como é o contato com o público? Eles conversam, ou são mais passivos e só esperam pelo próximo vídeo?
Daniel Pires: Antigamente a gente não respondia muito não, eu tinha meio um medo, sei lá (risos). Mas hoje faço deles os meus amigos e tento responder o máximo que eu puder. Isso vem ajudando muito nosso canal. O público gosta de ser respondido, pede ‘salve’ e volta sempre quando você responde. O mais legal é vê-los defendendo a gente quando alguém fala mal. (risos)
Já estiveram em eventos ou festivais?
Daniel Pires: Sim, no YouPix Festival de 2014, como canal ‘revelação’, no Content Talent Expo. Sempre vamos a pré-estreias de filmes de terror, mas ainda não participamos de festivais. Achamos que nosso trabalho está começando a ficar digno de participar de festivais agora. Nossa proposta é gravar um curta mais ‘elaborado’ para inscrever em algum festival do gênero.
O que vocês querem com o Lenda Urbana, quais os projetos?
Daniel Pires: O Lenda Urbana é um projeto que eu amo mesmo. Meu filho. Quero que ele cresça, mas o que eu julgo importante dizer é que não queremos ser YouTubers, nossa proposta é sair da internet, viver disso. Queremos produzir para a internet sempre, mas fazer coisas fora dela também. Cinema não seria nada mal (risos). Já fizemos projetos importantes com grandes distribuidoras de cinema (Sony, Warner e Fox). Somos parceiros do YouTube, gravamos no Space como convidados e sempre estamos com projetos para acrescentar ao Lenda. Além do vídeo em 360º, 4K e agora esse reality vindo aí. Vamos que vamos.
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