Na próxima sexta-feira, 29, será apresentado no teatro do Sesc Campinas o espetáculo “Oe”.
Com encenação de Marcio Aurelio, atuação de Eduardo Okamoto e dramaturgia de Cássio Pires, o solo é inspirado na obra do escritor japonês Kenzaburo Oe, especialmente no livro “Jovens de um novo tempo, despertai!”.
A montagem não pretende fazer apenas uma dramatização do livro, mas sim experenciá-la, encontrando na obra o impulso para a abertura de imaginários. A realização de um projeto urgente e impossível – um manual de definições do mundo, da vida e da morte – não é lido como o empreendimento pedagógico de um pai. Anuncia o processo em que cada um confere sentido às vivências. A tarefa enciclopédica de uma única pessoa esconde um enigma aberto a todos: o pai ensina o filho, mas é também um outro filho clamando explicações a um pai perdido.
A enfermidade do filho é recorrente na obra de Kenzaburo Oe. O filho viveu até os seis anos de idade sem desenvolver a capacidade da fala. Demonstrando grande sensibilidade auditiva e aprendendo a falar ao reconhecer o som dos pássaros, o menino aprendeu a tocar piano e, hoje, é compositor e pianista respeitado no Japão e fora dele.
Assim, a partir de uma narrativa pessoal, o espetáculo propõe um chamado para novas formas de cidadania, baseadas na responsabilidade intransferível de cada ser sobre suas ações: “[há uma] conexão existente entre a violência em escala mundial, representada por artefatos nucleares, e a violência existente no interior de um único ser humano”, escreve Kenzaburo Oe.
Para dar conta desta ampla leitura da obra do escritor, a dramaturgia do espetáculo não dramatiza passagens da obra do escritor japonês. Assim, mais que encontrar situações dramáticas que traduzam a literatura, o espetáculo apresenta uma espécie de leitura pública da obra. Trata-se, assim, de tomar a obra literária como estímulo para uma nova criação, encontrando na tridimensionalidade do palco teatral a recriação de uma potência que, na escrita literária, é bidimensional. Assim, o espetáculo usa pouquíssimos recursos materiais, concentrando a sua expressividade na tríade: espaço, ator, palavra. Num espaço praticamente vazio, o diretor encontra substrato para a abertura de imaginários do espectador. Neste espaço, o ator experiência e partilha narrativas físicas, vocais e literárias. Os criadores, através destes procedimentos, procuram encontrar suporte para uma expressão precisa (tal qual a partitura musical) e aberta (como se vê na literatura, impulso para a imaginação).
‘OE’ nomeia também um estudo empreendido por Eduardo Okamoto acerca das relações de trocas culturais e a criação cênica – desdobrando a investigação em conceitos como interculturalidade, multiculturalismo, transculturalidade e intracultura. Nos trabalhos de Okamoto, toma-se um mergulho na mestiça cultura brasileira (intraculturalidade) como um equivalente, ainda que diverso em princípios, de abordagens norte-européias da interculturalidade no teatro.
Os ingressos variam entre R$ 5,00 e R$ 17,00 e estão à venda pelo Portal do Sesc ou nas Unidades. (Carta Campinas com informações de divulgação)