Por Julicristie Oliveira
Um laptop no colo. Alguns dias atípicos. Uma mente faminta. Um estômago que quer saber mais. Então, que “sabores capitais” Brasília nos reserva? Neste texto, faço um bom “mexido” de alguns dias, do final de 2015 a começo de 2016, em que estive na capital federal.
Novos e velhos amigos me apresentaram e indicaram lugares interessantes. O café Daniel Briand, uma espécie de boulangerie francesa, tem em meio ao mar de preparações à base de manteiga, creme de leite, leite e ovo, algumas opções no cardápio: uma tradicional sopa de feijão com legumes e os sorbets. Os garçons me asseguraram que nada levava produtos de origem animal. Para quem gosta de comida indiana e procura um lugar mais aderente à proposta vegetariana/vegana, o Ashram é um opção fantástica. Os preços são acessíveis, tem várias opções veganas, o ambiente e o atendimento são agradáveis. Nesta mesma linha, o Terraviva é uma possibilidade interessante.
Por minha conta, depois de uma pesquisa rápida na internet, fiquei curiosa para conhecer uma pequena lanchonete-empório, a Faz-bem. Um colega vegano me disse que a “Faz-bem é mais um fast food vegano”. É verdade, mas que surpresas podem ser reveladas em uma lanchonete deste estilo?
Era meio de outubro, cheguei em Brasília quase na hora do jantar, então aproveitei para passar na lanchonete antes de seguir para o hotel. Pedi uma espécie de x-salada com hamburger de berinjela, queijo vegano, alface e tomate. O sanduíche foi servido lindamente acomodado em um prato, guarnecido com uma bonita flor vermelha. Antes que eu tivesse chance de questionar, o simpático moço que me serviu disse que a flor era comestível. Sorri e perguntei o nome. Ele me disse que era flamboyant. Sorri novamente, mas desta segunda vez com surpresa, pois eu não sabia que flamboyant era uma flor comestível. Sabia que era possível comer amor perfeito, capuchinha, cambuquira, mas flamboyant? Flamboyant? Flamboyant, definitivamente, não.
Então, com o meu constante “dilema da vegana”, entre a xenofobia e a xenofilia, entre a desconfiança e a vontade de conhecer o novo, contemplei a flor por dois segundos, mas logo a provei. A xenofilia ganhou. A flamboyant me encantou. Fui para o hotel olhando a paisagem através da janela do táxi. Quarteirões largos, arborizados, floridos, comestíveis. Nunca mais olhei para uma flamboyant da mesma forma. Tive a chance de conhecê-la por todos os meus sentidos: da visão ao paladar. Voltei para minha casa com a sensação de ter comido a cidade, de ter ingerido a paisagem. Aquela flor fazia parte de mim. Pois é, Brasília tem sabor e cor de flamboyant, de flamboyant vermelha.
Julicristie M. Oliveira tem doutorado em Nutrição em Saúde Pública, é professora do Curso de Nutrição da FCA/Unicamp e atua na área de Educação e Segurança Alimentar e Nutricional.