Na próxima quinta-feira, dia 28 de abril, das 9h às 14h, haverá um ato em Campinas para lembrar as vítimas de acidentes de trabalho e da grande contaminação dos trabalhadores da Shell-Basf.
A data é considerado o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças Causadas pelo Trabalho. A contaminação na Shell-Basf, ocorrida em Paulínia até 2002, provocou segundo os trabalhadores 75 mortes, a maioria causadas por câncer.
Neste ano, o Cerest (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, o Sindicato Químicos Unificados), a Atesq (Associação dos Trabalhadores Expostos a Substâncias Químicas) e a Intersindical Central da Classe Trabalhadora decidiram realizar o ato no local onde será construída uma unidade do Hospital do Câncer de Barretos voltada a diagnósticos dos tipos mais comuns de câncer.
Além do ato, haverá exibição do filme O Lucro Acima da Vida às 14h30 no Cerest. O filme é uma ficção inspirada na luta real dos ex-trabalhadores Shell-Basf pelo direito à vida e condenação das multinacionais pelos danos causados aos trabalhadores e ao meio ambiente.
A escolha do local para o ato relembra as vítimas de contaminação causada pelas multinacionais Raízen Combustíveis S.A. (antiga Shell do Brasil) e a Basf S.A na planta industrial localizada no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulínia. Cerca de 75 ex-trabalhadores da Shell/Basf já morreram, boa parte deles por tipos de câncer.
A vinda da unidade do Hospital do Câncer de Barretos para Campinas, com a construção de um centro de diagnósticos e unidades móveis que circularão pelos bairros realizando exames preventivos só está sendo possível porque o Sindicato Químicos Unificados e Atesq pleitearam no acordo judicial uma cláusula para que a verba de R$ 200 milhões relativa a indenização por danos morais coletivos fosse revertida diretamente a projetos voltados à saúde dos trabalhadores, com foco na pesquisa e prevenção, a serem selecionados pelo Ministério Público do Trabalho. Este projeto do Hospital do Câncer de Barretos foi um dos selecionados e utilizará R$ 69,9 milhões da verba de indenização por danos morais coletivos.
Dados sobre acidentes e doenças ocupacionais
Os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais matam no Brasil cerca de 57mil pessoas por ano, de acordo com estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O número é quase 22 vezes maior que o captado pelas estatísticas oficiais da Previdência Social para os acidentes de trabalho fatais. Segundo o último levantamento disponível no site da Previdência Social, o Brasil registrou 717.911 acidentes de trabalho, sendo 2.797 deles com mortes.
Os dados referentes a acidentes e doenças causadas pelo trabalho no Brasil não refletem a realidade porque muitos sequer são notificados e porque o levantamento da Previdência leva em conta apenas os 48.948.433 trabalhadores com vínculos formais (celetistas, temporários, avulsos, entre outros), excluindo quem está no mercado informal, trabalhadores domésticos informais, profissionais autônomos, empregadores, militares e estatutários. A ausência de uma base de informações atualizada impede políticas eficazes em relação à saúde do trabalhador.
Origem do 28 de abril
O 28 de Abril – Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças Causadas pelo Trabalho surgiu no Canadá por iniciativa do movimento sindical, e logo se espalhou por diversos países, organizado por sindicatos, federações, confederações locais e internacionais. A data foi escolhida em razão de um acidente que matou 78 trabalhadores em uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos no ano de 1969. A OIT, desde 2003, consagra a data à reflexão sobre a segurança e saúde do trabalhador.
Caso Shell/Basf
Nesta data, trabalhadores de todo o mundo protestam e denunciam a persistência do adoecimento e mortes causadas pela atividade profissional. De acordo com os sindicalistas e diferente da abordagem do setor empresarial, os acidentes e as doenças não acontecem por falha humana ou falta de equipamentos de segurança e proteção, mas dentro do contexto de pressão por produtividade. “O lucro é colocado acima da vida como comprova o crime cometido pelas multinacionais Shell-Basf que trouxeram para o Brasil a produção de agrotóxicos com substâncias banidas em 1974 nos Estados Unidos”, afirmam os organizadores do evento.
Os chamados drins (Aldrin, Dieldrin e Endrin) produzidos pela Shell foram proibidos por permanecerem no meio ambiente e se propagarem pela cadeia alimentar. A Agência de Proteção Ambiental do país (Usepa) confirmou o alto risco de câncer em animais e contaminação em alimentos. Entre os problemas de saúde desenvolvidos pelos ex-trabalhadores da Shell/Basf estão: hepatite, alterações na tireoide (problema incomum em homens), cânceres de próstata, pulmão e intestino, complicações renais, problemas de fertilidade, complicações neurológicas comprometedoras da memória, alterações sanguíneas, entre outros.
SERVIÇO
Ato em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças Causadas pelo Trabalho
28/04 das 9h às 14h
Local: Avenida das Amoreiras, São Bernardo, em frente à marginal do Piçarrão. Próximo ao terreno onde será construído o centro de diagnóstico do Hospital do Câncer de Barretos.
Exibição do filme O Lucro Acima da Vida
28/04 às 14h30
Local: CEREST Campinas – Av. Prefeito Faria Lima, 680 – Parque Itália
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