O Projeto “Cartas Visuais” apresenta, nesta segunda reportagem em texto, foto e vídeo, um pouco do trabalho do artista plástico João Bosco.
João Bosco começou sua relação com a arte quando ainda era criança, em Redenção da Serra, cidade do interior de São Paulo, localizada na região de Paraitinga. Na escola, o que mais lhe atraía eram os traços e linhas. No ambiente familiar, os irmãos engajados no teatro e coral, o pai, um artista da culinária, e a sua mãe, amiga da mãe de um artista plástico que se chamava Justino, levaram João Bosco para um mundo do qual ele já se sentia íntimo.
Desses lugares de infância, vem um dos traços fundamentais do trabalho de João Bosco, o movimento que ele mesmo chama de “arqueologia”, no qual objetos, lugares, pessoas, lembranças e acontecimentos do passado são resgatados e reinventados.
Essa arte do resto, do resíduo, das imagens do passado que voltam para (re)existirem de alguma forma no espaço da obra de arte, pode ser vista no próprio atelier do artista onde, em meio às suas telas, descobre-se os mais variados objetos, as mais inesperadas formas.
Aquilo que quase sempre não interessa se torna, na obra de João Bosco, o protagonista de improváveis sobrevivências em uma arte múltipla que se desdobra em telas, ilustrações e uma mistura de técnicas como a monotipia e a utilização do mimeógrafo, passando também pela acrílica sobre tela, colagens, ilustrações com nanquim, arte postal, entre outras.
Além da produção como artista, João Bosco realizou um trabalho de ateliê no Serviço de Saúde Cândido Ferreira, em Sousas, durante 15 anos, que levou muitos frequentadores a posições de destaque em diversas premiações artísticas. Atualmente, ele faz parte de um projeto de revitalização artística da Estação Cultura, em Campinas, coordenando as atividades no Ateliê Livre da Estação, um ateliê de artes plásticas que funciona em um túnel da plataforma de trem, onde ministra oficinas.
No seu resgate e reinvenção, a arte de João Bosco parece ser, antes de tudo, uma arte de busca, uma busca silenciosa e constante, daquilo que aparentemente está perdido, mas que se faz, ainda uma outra vez, possível. Aqui e ali, nos milhares de objetos, cheiros e texturas, a arte é um lugar da infância que persiste como procura e possibilidade permanente.
O projeto foi contemplado no Edital ProAC nº 41/2015 “Concurso de Apoio a projetos de publicação de conteúdo cultural no Estado de São Paulo”, com a proposta de valorizar e promover a difusão do trabalho artístico contemporâneo em Campinas e região. (Maura Voltarelli)
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