Por Luís Fernando Praga
Ele nasceu pra partilhar o mundo, e a vida, num piscar da eternidade, deixou-lhe a terra, o céu, o mar profundo, e nele próprio, um mar liberdade. E tudo era lugar de ser feliz, com seus riachos, flores e cascatas, o Sol, a Lua, estrelas e as matas, pra que ele fosse sempre um aprendiz. A vida deu-lhe amores, dores e saudades, espalhou seus perfumes pelo ar, mostrou a solidão, as amizades e a perene opção de questionar.
Ele aprendeu, cresceu e ficou forte, vaidoso, ignorante e prepotente, tornou seu mundo num lugar doente e assim deixou depois de sua morte.
O filho herdou o mundo de seu pai, com menos Lua, flores, menos bichos. Seu mar de liberdade já se esvai, seu oceano acumula lixos. No mundo impera um poder tirano de uma engenhosidade secular, acorrentados ao engenho humano, deixamos de aprender e questionar. Inventamos o ódio e a opressão, e ela nos mandou obedecer, da obediência veio a escravidão e ter escravos era ter poder. Ficamos cegos de enxergar quem somos e massacramos nossos semelhantes, a nossa gente, os nossos cromossomos, tratados como seres rastejantes. Fomos manipulados por dinheiro e pelo medo que um inferno traz, criamos o inferno verdadeiro, plantando guerras onde havia paz.
Assim multiplicamo-nos cativos dos donos das ovelhas oprimidas, escravos, viciados, semivivos, esperam mais de nós as nossas vidas.
Somos treinados a crer, em tenra idade, que o pai deixou o mundo desse jeito, e tudo que deixou, deixou perfeito, e questionar é uma incredulidade, e damos nosso sangue, nossos dias, para poder cumprir estranhas leis, contrárias ao amor e às poesias. Nós somos plebe só porque há reis.
Porém há um movimento no mundo em que vivemos, que leis humanas não podem mais conter. A vida exige uma guinada extrema e diz que não mudar é não viver.
Vamos lutar sem armas de matar, nenhum meio ruim gera, no fim, um bem. A vida é linda pra se abreviar a experiência única de alguém. Vamos plantar um pé de liberdade e aos seus pés as flores do pensar, e os frutos doces dessa sociedade não mais terão motivos pra odiar. Fronteiras também não existirão, e a vida sorrirá as leis de todos nós: Amar pra não cair em tentação, a voz da utopia é nossa voz. Mas pra viver nesse estado de graça, onde o todo é a família e o mundo é o lar, que se desfaça o medo e mude radical, só nossos filhos podem nos salvar, e nessa nova ordem de educar a desobediência é mais do que vital!
É isso aí. Se a EDUCAÇÃO no lar e nas escolas, nas religiões e na vida em sociedade fosse cultivada com base na valorização do PENSAR do educando (e do educador), no RESPEITO MÚTUO, no AMAR (VERBO INTRANSITIVO, como queria Mário de Andrade: amar indiscriminadamente a toda a humanidade), no desenvolvimento do ESPÍRITO CRÍTICO, na DESOBEDIÊNCIA a imposições sem sentido, na VALORIZAÇÃO da VIDA, o mundo já seria infinitamente melhor.
Obrigado! O mundo pode ser e, quem sabe ainda será infinitamente melhor. Enquanto isso, não deixemos de ver o lado bom que há… nem o ruim.