
Entre quinta, 15, e sábado, 17, às 20h30, no Centro Cultural Casarão, em Barão Geraldo, será realizada a temporada de pré-estreia de Molhados&Secos, novo espetáculo da Cia. ParaladosanjoS. O espetáculo começou a surgir após a enchente protagonizada pelo casal de atores Marcos Becker e Marília Ennes, integrantes da Cia, há 12 anos, em Campinas. A tragédia de perder um lar pelas águas foi transformada por eles em um espetáculo híbrido em que arte, humor e amor navegam na mesma sintonia.
Trata-se de um espetáculo performático, pautado pelo encontro de diferentes linguagens artísticas em busca de uma dramaturgia compartilhada e vivaz, proposta pela criação conjunta entre atores e encenadores. O projeto ainda prevê ações de formação e reflexão, como workshops e mesas de debate.
“Em 2003, a cidade de Campinas passou por uma tragédia ocasionada por uma grande enchente, quando morreram várias pessoas. Nós dois também fomos afetados pela água. Desde aquela época, vínhamos alimentando a ideia de criar um espetáculo em que um casal sofreria com a enchente. Mas, ao invés de irem embora, eles suspendiam tudo da casa onde moravam e passavam a viver naquele espaço todo alagado”, conta a atriz Marília Ennes. Em 2015, ao contemplar a crise hídrica no Estado impulsionada pela escassez da água, o duo ParaladosanjoS resolveu acrescentar um novo elemento à narrativa: o seco.

Para organizar a justa dosagem entre fatos reais e elementos fantásticos dos episódios, tanto os secos quanto os molhados, o duo ParaladosanjoS convidou quatro diretores de diversas formações e linguagens para a cena híbrida. Trata-se do quarteto Fernando Villar (UNB/Brasília), Raquel Scotti Hirson (LumeTeatro/Campinas), Mônica Alla (Grupo Ares/SP) e Idit Herman (Clipa Center of Performance Art/Israel). A partir do tema, cada diretor, apropriando-se de sua estética de trabalho e investigação, manteve-se livre para a criação de uma cena em conjunto com a dupla de atores.
A partir dessa realidade transversal de criação, Molhados&Secos vem ao encontro da pluralidade de linguagens artísticas, que busca um diálogo uníssono ou, no outro extremo, propõe embates fervorosos ao longo da narrativa. Sendo assim, o circo, a dança-teatro, o teatro físico, a música (trilha original), o teatro visual, a performance, o design e as projeções disputarão os olhares da plateia.
“Não há uma história com começo, meio e fim. Apesar das cenas estarem divididas em blocos, enxergamos uma mistura muito grande dos trabalhos, o que justifica justamente as artes integradas. As fronteiras entre as linguagens estão, cada vez mais, se esfumaçando”.
A primeira das cenas que compõem o espetáculo, sob a direção de Mônica Alla, propõe o encontro alegórico entre uma deusa e o último sobrevivente da tragédia, que segue com a projeção de imagens reais dos atores em uma ponte devastada pela enchente de Campinas. A partir desse ponto, “buscamos na próxima cena, sob o olhar da Raquel Scotti Hirson, trabalhar a mímesis corpórea a partir de histórias reais de sobreviventes da tragédia, que também contam com a inspiração de Vidas Secas, de Graciliano Ramos”, pontua Marília.
Um passo para trás. Dessa forma, pode ser resumido o núcleo dirigido por Fernando Villar. Até porque o diretor conduz o espectador a se reencontrar com o duo ParaladosanjoS desde a infância de cada protagonista, o momento do encontro entre os dois e a vivência da tragédia. Em sintonia, “a Idit Herman propõe a reconstrução física de nosso trauma”, destaca Marcos. Incrustado entre um momento e outro, a plateia se delicia com os bons ares vindos de um símbolo intrigante: um ventilador. “Esse objeto, que faz parte do desfecho do espetáculo, foi a única coisa que conseguimos salvar de dentro de nossa casa devastada”.

Entre um e outro? Marcos, prefere o seco. Marília, o molhado. No mergulho da secura de um ou na aridez molhada do outro, o espetáculo conduz a plateia a brincar de desvendar as verdades e os mitos dentro de cada passagem. Além, é claro, de lançar olhar apurado sobre os momentos íntimos de secura ou umidade de cada espectador. “Essa relação antagônica está impressa nas relações das pessoas, em nosso olhar sobre o social, nos sentimentos de cada um e na própria contradição das pessoas. Viver em realidades tão extremas, como no seco ou no molhado, pode simbolizar o grande conflito da vida”.
Além da apresentação do espetáculo, o projeto Molhados&Secos contempla a reflexão sobre a cena e a formação artística. Para tanto, durante as temporadas, a plateia poderá participar de quatro workshops: Performance e Design para a Cena (Idit Herman/Isarel), Dramaturgia Híbridas (Fernando Villar/Brasília), Mímesis Corpórea (Raquel Scotti Hirson/Campinas) e Danças Verticais (Mônica Alla/São Paulo), bem como de uma mesa de debates com os encenadores e os atores da ParaladosanjoS.
O projeto foi contemplado pelo edital 2014/2015 do ProAC (Programa de Ação Cultural), na categoria Artes Integradas. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Espetáculo Molhados&Secos
De quinta (15) a sábado (17), às 20h30, no Centro Cultural Casarão (Rua Maria Ribeiro Sampaio Reginato, s/n, Terras do Barão, em Barão Geraldo). Ingressos no chapéu.Workshop “Performance e Design para Cena”, com Idit Herman (Clipa Center of Performance Art/Israel)
De quinta-feira (15) a sábado (17), das 9h às 13h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Inscrições gratuitas: (19) 3521-2444.Workshop “Dramaturgias Híbridas”, com Fernando Villar (UNB/Brasília)
Sexta-feira (16), das 14h30 às 19h; sábado (17), das 16h às 19h30; e domingo (18), das 9h às 13h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Inscrições gratuitas: (19) 3521-2444.Workshop “Danças Verticais”, com Mônica Alla (Grupo Ares/SP)
De quinta-feira (15) a sábado (17), das 9h às 13h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Inscrições gratuitas: (19) 3521-2444.Workshop “Mímesis Corpórea”, com Raquel Scotti Hirson (Lume Teatro/Campinas)
Sexta-feira (16), das 14h30 às 19h; sábado (17), das 16h às 19h30; e domingo (18), das 9h às 13h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo). Inscrições gratuitas: (19) 3521-2444.Mesa Redonda com os diretores do espetáculo Molhados&Secos (Monica Alla, Idit Herman, Fernando Villar e Raquel Scotti Hirson) e os atores Marcos Becker e Marília Ennes, sob a mediação do ator-pesquisador Renato Ferracini (LumeTeatro/Campinas)
Sábado (17), das 14h às 16h, no Departamento de Artes Cênicas da UNICAMP (Rua Pitágoras, 500, na Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, em Barão Geraldo).
Entrada gratuita.
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