Apesar de existir diversos pontos de interrogação na partitura de vida de Casca Grossa, Mauro Braga busca decifrá-los. Para começar, a figura nasceu no palco dentro do espetáculo Crossroad, em 2007, assinado pela companhia ParaladosanjoS. “Ele é um violoncelista e morador de rua. Essa aparente contradição é o primeiro ponto de poesia da intervenção. Como assim, um morador de rua que toca violoncelo? Da mesma forma, ele é um poeta marginal que está sempre cutucando as pessoas, lançando iscas, que podem ser uma música, um poema ou um pensamento. A grande provocação do Casca Grossa está em tirar as pessoas do ritmo cotidiano, mostrando a elas o lado poético da vida”, conta Mauro.
Um passo para trás. Antes de chegar às ruas, Casca Grossa foi esculpido a partir do fascínio do violoncelista pela trajetória do músico e compositor norte-americano Tom Waits, que se notabilizou na cena underground. “Ele foi bastante marginal e contra a corrente musical de sua época”.
Em companhia do fiel escudeiro Bafo Quente, Casca Grossa se instala em qualquer lugar da cidade, independentemente do barulho e das condições ou do movimento de carros e das pessoas. Não por acaso, a matéria-prima da intervenção brota exclusivamente dessas situações experimentadas na rua.
Há apenas alguns trechos cênicos do espetáculo preparados previamente para instigar público e intérprete. Por exemplo, a cena em que Casca Grossa presenteia a plateia com o prelúdio e a sarabanda da Primeira Suíte para Violoncelo Solo, de J.S. Bach (1685-1750). Ainda pelo viés musical, “tenho duas canções próprias que sempre uso na intervenção, que são o blues Balde d’água (‘Hoje acordei foi com um balde d’água/ Foi com água fria/ Foi com água gelada’) e o rap Silêncio Inevitável (‘Realmente somos o que somos/ e não o que queremos ser/ importante é pensar fazendo/ tendo na rotina algo imprevisível’)”.
O texto poético também habita os núcleos. Assinados por Mauro Braga, os pensamentos e as poesias têm como inspiração o muro, a cidade, as pessoas, a solidão, a condição do morador de rua e, claro, os becos. Nesse último caso, “muito a ver com os becos sem saída, tanto os becos de concreto quantos os becos internos que a gente passa a cultivar durante a vida”, destaca. A partir de todo esse linguajar, a plateia terá o privilégio de ouvir falar de Estrela Dalva, a musa inspiradora de Casca Grossa. Quem seria? “Pode ser uma mulher, uma estrela, a própria cidade… Enfim, a felicidade! Aquilo que todos nós vivemos buscando, mas nem sempre sabemos nomear”, conta Mauro. No mesmo sentido, o nomadismo de Casca Grossa também é algo proposital. “Ele tem essa característica do caminhar, de estar sempre buscando um outro lugar. Ao mesmo tempo em que cria um espaço espetacular, que pode ser a formação de uma roda com pessoas, ele não se importa de desconstruí-lo para seguir um novo caminho”.
Além da música, do teatro físico, da técnica clownesca e da literatura, as artes plásticas também estão presentes na intervenção. O detalhe está impresso em ilustrações feitas pela artista campineira Clara Wagner. “Esses desenhos retratam cenas de Casca Grossa e Bafo Quente espalhadas pela cidade, algumas realistas e outras nem tanto, mais voltadas à caricatura. São presentes que costumo dar para algumas pessoas, de preferência para aquelas que percebo que tiveram uma interação maior durante a intervenção”.
Ao espectador de minutos cabe refletir, após a passagem do violoncelista, sobre dois pontos: o sentido das palavras jogadas ao vento por Casca Grossa e se aquela figura seria real ou fictícia. “O barato está justamente nesse limiar: uns acreditam que ele vive fora daquele contexto cênico e outros dizem que não”.
As apresentações são todas gratuitas. A intervenção foi contemplada pelo edital 2014/2015 do Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), programa de incentivo cultural da Secretaria de Cultura de Campinas. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Programação de Estreia
Quarta-feira (7/10)
às 16h: Terminal Central de Campinas (Rua Cônego Cipião, no Centro)
às 17h30: Mercado Municipal de Campinas (Rua Benjamin Constant, no Centro)Sexta-feira (9/10)
às 16h: Praça Rui Barbosa (Rua 13 de Maio, s/nº, no Centro)
às 17h30: Largo do Rosário (Av. Francisco Glicério, no Centro)Entrada gratuita
Classificação indicativa: Livre
Tempo de duração: 60 minutos
Produção executiva: Cais das Artes
Coordenação de Produção: Dani Scopin
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