As paisagens feitas de mar, pescadores e barcos logo revelam um dos diálogos mais constantes e expressivos presentes na obra do artista plástico Tiago César, que, neste mês de outubro, ilustra o site Carta Campinas com sua arte, dentro do projeto Carta Campinas Visuais.
A intimidade de formas e cores com a praia vem das origens do artista que nasceu em Vitória, no Espírito Santo, em setembro de 1977, ao lado do mar. Outras experiências como o gosto pelos esportes em geral, particularmente o futebol e o tênis, também se deixam ver em suas telas e desenhos.
Tiago começou a desenhar aos 19 anos, quando ingressou na faculdade de Arquitetura em Porto Alegre. Mas foi em Belo Horizonte, onde morou 12 anos, e em Campinas, onde vive atualmente, que o artista aprofundou seus ensaios e estudos em pintura a óleo sobre tela.
Desde então, passou a construir uma arte onde se percebe não só a presença de suas vivências, como também a influência dos lugares e paisagens das cidades por onde passou ou viveu. Sua história confunde-se com seu trabalho e este, a partir dela, ganha um tom próprio, ditado por traços largos, cores marcantes, com influências que parecem passar pelo impressionismo, levando também consigo algo do cubismo e mesmo do surrealismo.
Uma certa sondagem do homem, sua personalidade e relações, não deixa de estar presente em sua obra que propõe um olhar específico em torno do “lugar de cada um”, do lugar do próprio artista face à sua personalidade fragmentada, indo em direção à questão do outro – o estranho familiar – e também da solidão.
Solidão que, às vezes, está na própria paisagem de uma praia em fim de tarde, representada em uma de suas telas, onde há apenas a ponta dianteira de um barco de pescador a atingir os olhos, juntamente com um ocaso que se movimenta pelos traços fluídos de um céu em chamas.
Mas cada um de seus quadros, como ele mesmo diz, é um universo, falando de mundos e de memórias, com intenções e construções próprias.
“No quadro “as mil faces de Tiago César”, apresento uma busca pessoal incessante de minha personalidade fragmentada. Traço que vem aparecendo em minha obra desde que comecei a fazer psicanálise. No quadro “cada um no seu quadrado”, um dos personagens tem um olhar desconfiado, o outro está intrigado no seu pensamento, e também há pessoas se divertindo sozinhas. Já o meu quadro “ensaio cubista”, feito com espátula dando uma irregularidade proposital e que contém apenas três cores, tem o objetivo de confundir. Via de regra, não há como explicar a minha arte a não ser quadro a quadro”, diz o artista. (Maura Voltarelli)