A próxima estação das chuvas não será suficiente para afastar a crise hídrica. Nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastece Campinas e região, a situação da crise hídrica é grave, de acordo com o coordenador de Projetos do Consórcio PCJ, José Cezar Saad.
“A situação continua crítica. Estamos em um grau de criticidade bastante grande, visto que os rios estão com baixas vazões, o índice pluviométrico está baixo”, ressaltou sobre os mananciais que fornecem água para 5 milhões de pessoas em 62 municípios. Desses, 58 estão no interior paulista e quatro em Minas Gerais. Para se ter uma ideia, são necessários 131,4 bilhões de litros de água para o Sistema Cantareira voltar ao índice positivo, hoje operando no volume morto.
Na avaliação do técnico, a crise hídrica deve durar pelo menos mais um ano. “Não há uma grande perspectiva de melhora. Segundo os institutos de meteorologia, a situação de poucas chuvas deve continuar por mais um ou dois anos”, acrescentou.
Para lidar com o problema, Saad defende tanto ações individuais, como os consumidores captarem água da chuva, e iniciativas do Poder Público, como o desassoreamento de rios e novas barragens. “Pequenas ações, bem distribuídas, vão dar bons resultados para a bacia de forma geral”, destacou o coordenador.
Com queda no nível dos reservatórios e poucas chuvas, a região metropolitana de São Paulo também deve continuar a enfrentar grave crise no abastecimento de água. O Sistema Cantareira opera com volume morto, e tem armazenados 12,3% da capacidade total das represas. Em 26 de julho, o sistema tinha 10,4% de déficit. Em um ano, o Cantareira perdeu 85,14 bilhões de litros de água, queda de 6,7 pontos percentuais em relação ao volume total. Outro sistema importante, o Alto Tietê, também opera em níveis baixos, apenas 14,4% da capacidade. Há um mês, esses reservatórios tinham armazenados 18,5% da capacidade.
Diante desse cenário e caso os reservatórios se esgotem, a redução mais severa do abastecimento de água se torna urgente, na opinião do professor de Ciências Ambientais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Décio Semensatto. Para ele, a situação poderia ter sido evitada com a adoção de medidas estruturais. “Da água que sai do reservatório até chegar na torneira, cerca de 30% se perde na distribuição. Perdas na distribuição são aceitáveis, fazem parte do sistema. Mas, em países com o mesmo nível de desenvolvimento econômico do estado de São Paulo, esse nível de perdas está em torno de 10%”, citou.
“A gente chegou agora ao final de agosto, praticamente no pico da estação seca. A gente tem ainda entre 45 dias e 60 dias para passar com seca. E a gente tem menos água do que tinha no ano passado. Talvez a gente não esgote todos os reservatórios neste ano, pois por determinação do Daee [Departamento de Águas e Energia Elétrica], a saída de água foi bastante reduzida e a gente está consumindo menos, por meio de racionamento”, disse o professor.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) reduziu a pressão do abastecimento. Com isso, os consumidores recebem água por algumas horas do dia, e redistribuiu a demanda entre os sistemas. Antes da crise, os reservatórios do Cantareira eram usados para atender mais de 9 milhões de pessoas, atualmente pouco mais de 5 milhões. Ganharam importância os sistemas do Alto Tietê e Guarapiranga, que juntos fornecem água para mais de 10 milhões de habitantes.(Agência Brasil; edição Carta Campinas)