Na mesma semana do ataque à família da professora aposentada da Unicamp, Walquiria Leão Rego, em São Paulo, e depois de vários ataques a integrantes ou participantes de governos petistas, mais uma atitude fascista marcou presença na Unicamp neste mês de setembro.
Desta vez o alvo foram os alunos, professores e funcionários do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, em Campinas. Ao lado de uma das escadas do prédio foi escrito um texto com os dizeres: “Morte aos comunistas do IFCH da Unicamp, seus parasitas, vão trabalhar”.
Em resposta, o professor Ricardo Ortiz, um dos grandes nomes do instituto, escreveu uma carta aos colegas, que foi publicada em rede social.
Para Ortiz, a cretinice saiu do armário no Brasil e não se envergonha de si mesma. Ou como diz José Simão, depois de chamarem ciclistas de comunistas, o Brasil precisa de ajuste fiscal, mas também de ajuste mental.
Veja a carta do professor.
“Carta aos Colegas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
“Morte aos comunistas do IFCH”. A frase estava escrita na parede de entrada do prédio da direção do Instituto de Filosofia. O lugar escolhido era estratégico, ao subir as escadas a mensagem podia ser vista no seu brilho ofuscante. Minha reação foi de espanto, permaneci imóvel diante do texto, nunca havia visto algo assim em minha vida universitária. No dia seguinte, ao chegar no Instituto, os dizeres tinham sido apagados.
“Morte aos comunistas”. A segunda parte da frase é genérica não tem intenção de ser precisa. Dificilmente, após o colapso da União Soviética, ela poderia dirigir-se àqueles que se consideram “comunistas”. Não, o termo possui uma conotação polissêmica: “esquerda”, “canalha”, “safado”, “petista”, “corrupto”. A denominação deve ser suficientemente ampla para dar a impressão que a pessoa que escreve situa-se na condição fictícia de que é possível falar “contra todos”.
Ela estaria indefesa, ameaçada pelas forças estranhas que a rodeiam. A primeira parte da sentença é, no entanto, clara, límpida, lembra a palavra de ordem do fascismo: morte. Não há nenhuma dubiedade no que é dito: os adversários devem ser aniquilados.
Creio que foi precipitado apagar o grafitti. Ele deveria, temporariamente, permanecer no muro, vestígio e testemunho da estupidez que nos cerca. Temos a ilusão que a universidade, um lugar de liberdade e debate, estaria ao abrigo dessas coisas. Engano. As fissuras sociais nos atingem diretamente.
Existe atualmente na sociedade brasileira um clima explícito de cretinice, ela não se envergonha de si mesmo, orgulhosa, torna-se pública, revelando sua face distorcida. Pior, não se contenta em circunscrever-se aos espaços dos partidos ou dos movimentos políticos, invade o quotidiano, as conversas, amizades, relações de trabalho.
A intolerância sente-se confortável, à vontade para se apresentar como um código moral duvidoso. “Morte”, “Comunista”. As palavras não nos machucam diretamente, mas contém uma potencialidade inquietante, a passagem da intenção ao ato, da agressão verbal à violência física. Resta-nos a indignação, dizer não a esta deriva autoritária, expor sua arrogância e falsidade.
A indignação é um sentimento de repulsa, retira-nos da passividade, recorda-nos que o presente é frágil e as conquistas que conhecemos nada têm de perenes, permanentes.
Renato Ortiz
10 setembro de 2015
Esse ódio advém do desejo (introjetado) de se sentir superior e não conseguir. Uma forma de desequilíbrio mental/ambiental.
Também acredito nisso, e que o ódio e violência vêm da falta de argumentos.
É uma manifestação triste e condenável. Ela me lembra algumas que já vi na FFLCH-USP, no prédio da História e Geografia, do tipo “Morra, Rodas”, “A direita vai morrer” e “morte ao Estado fascista de Israel”.
Claro que não é a mesma coisa. Quando se fala da morte de um estado, ou da direita, evidentemente que se trata de uma metáfora, não de matar pessoas – Rodas não sei… do que se trata? Mas os “comunistas” estão ali, lado a lado com os que prometem ou incitam sua morte, estão no instituto. São pessoas, não há metáfora, embora possa não haver disposição pra as consequências, mas enfim, quem pagará pra ver? E foi assim que o fascismo foi dando seus passos surdamente, como se fosse banal, ou como se não fosse nada de tão estranho, embora o próprio nazifascismo se apresentasse como novidade absoluta.
Prezado Moacir,
Respeito sua opinião, mas me permita discordar. Acho que é a mesma coisa. Rodas era o então reitor da USP. Logo, “Morra, Rodas” tem um sentido bastante claro. Os “comunistas” são pessoas, do mesmo modo que a direita e o Estado de Israel também o são — ou, enfim, são fenômenos ou instituições redutíveis a pessoas. Não quero entrar numa discussão sobre individualismo metodológico. Acho um absurdo o que escreveram no IFCH. Porém, não acho que o ódio venha de um lado só. Só isso.
Apoio. total ao. professor. Ortiz. . Grande mestre. . Ainda. bem que podemos. contar com sua. ajuda a. Por. que vejo. UM pais surtado. Deus de onde vem tanto odio…..
Reivindicar direitos no Brasil virou sinônimo de comunismo. A turma de cima não admite ceder nada aos diferentes.
Infelizmente, a intolerância grassa numa instituição que deveria ser marcada pelo diálogo e o bom entendimento. Há uma polarização que afasta qualquer tentativa de bom entendimento e isso preocupa os verdadeiros democratas. Infelizmente, o radicalismo ocorre tanto nos
pseudo-liberais, como nos esquerdistas. Vamos substituir o radicalismo pelo diálogo?
Em tempo: conheço um docente muito competente (área de Linguística) que reside em Campinas e jamais pôde ingressar na Unicamp por ser oficial R2 do Exército e ter o curso da Associação dos Diplomados da Esc. Superior de Guerra. Isso po?
Quando se expõe um desejo de morte a alguém, devemos nos preocupar com a ameaça, porém vamos analisar o cartaz com mais profundidade: “Morte aos comunistas do IFCH da Unicamp, seus parasitas, vão trabalhar”. Como desejar a morte às pessoas e ao mesmo tempo indicar que trabalhem? Será que quem escreveu não estaria desejando “matar” a IDEOLOGIA COMUNISTA, ao invés das pessoas? Independentemente da direção de pensamento perigosa que José Simão insinuara em sua carta de repúdio,se somos ou não de esquerda ou de direita, se concordamos ou não com o que está estava escrito, sejamos inteligentes!
Frases apócrifas em uma Universidade? Isto é muito perigoso. Na minha compreensão, além de cretino, como disse o Professor Ricardo Ortiz, é covarde. Que armas essa criatura escolhe para matar? Suas palavras fascistas não podem encontrar eco. Na busca cega de inimigos, quem escreveu no IFCH macula sua dignidade. Covarde, se esconde no anonimato.
Infelizmente muito normal. Pela situação de enganos quem paga são os que defendem uma nova sociedade. O cretinismo parlamentar de todas as siglas que se engajam no jogo podre de enganação do povo reflete no cretinismo dos que estão com outros papéis nesse jogo. Vivemos uma fascistizaçao em tudo e em suma a culpa é desse Estado que modela toda a estrutura para tirar o que é do povo e entregar aos grandes. Nada acontece por acaso e resultado de poucas cabeças. A realidade que leva a essa. Condição
sao frases maravilhosas, adorei este site.