Por Allan Lucena

Marta Diarra

… e nunca mais poder fazer isso de novo.
A desculpa: medo de insetos, formigas ou aranhas, pegarem meu pé.
E nunca mais devolverem os sapatos que me protegem de algo extinto:
a grama fresca sob os pés descalços numa tarde quente e dançante.

A Natureza que me perdoe, pois minha alma não tem salvação.
O meu medo não morre até que tenha satisfeita minha vontade.
Tolice minha, da humanidade, que me pede para calçar os pés.
“Proteja-se do que te faz bem, e guarde-se dentro de um prédio!
Caiba dentro de uma caixa e fique lá onde é seguro, só seu!”

E não saio pra ver o céu. E não moro mais no mundo.
Tenho endereço para ser encontrado. E telefone. Móvel.
Fixo os pés e crio raízes, enquanto as árvores são trocadas por alicerces.
“Que belo prédio! Que linda vista da cidade!”
Tudo cinza com alguns pontos verdes. Alguns prédios são pintados.

Fica aí, vamos tomar um café! Grãos que vieram lá da África!
O único povo feliz no mundo todo. O único que ainda mora no mundo.
O único que sofre com os donos do mundo tentando calçar seus pés,
enquanto eles produzem os calçados dos pés do mundo…
Tenho medo de pisar na grama, e nunca mais ter grama embaixo dos pés.

Allan Lucena é autor do blog Umikizu