O Instituto Patrícia Galvão, organização social sem fins lucrativos voltada à comunicação e direitos das mulheres, lançará em agosto uma plataforma na internet direcionada a jornalistas, comunicadores com dados sobre a violência contra a mulher. E poderá ser acessada por qualquer pessoa, inclusive juízes, agentes públicos e políticos.
A violência contra a mulher está inscrita na “ideologia patriarcal”, como definiu o juiz, José Henrique Torres, titular da 1ª Vara do Júri de Campinas, em uma uma decisão em que autorizou o aborto de um feto anencefaliano. Para ele, a questão é um problema terrível no país, pois o sistema de saúde não consegue enfrentar a necessidade do aborto legal. “Há uma necessidade imensa de que os juízes entendam a dimensão da violência contra a mulher. Isso vem de uma ideologia patriarcal que todos conhecem muito bem”, declarou.
A ferramenta do Instituto Patrícia Galvão vai funcionar como um dossiê e entra no ar em agosto, trazendo as últimas pesquisas publicadas sobre assuntos como violência doméstica, sexual, feminicídio e violência de gênero na internet (como a pornografia de vingança). O objetivo é agregar mais conteúdo futuramente e inserir outras formas de violência. A plataforma traz também um banco de fontes, inicialmente com os contatos de 100 especialistas no assunto.
Um dos papéis do site é facilitar o acesso da imprensa ao material do instituto para diminuir os preconceitos quando o tema surge na cobertura dos veículos de comunicação, além de apoiar os comunicadores independentes e ativistas. “Na última década, a gente teve a grande expansão do feminismo na internet”, disse Maíra Kubik, professora em Estudos de Gênero e Diversidade, do departamento de Ciência Política, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
“A gente pode situar a violência como a ruptura de qualquer forma de integridade, seja psíquica e sexual. Da forma como a sociedade está constituída, coloca determinados grupos em posições de superioridade e inferioridade. No caso das relações de gênero, a gente pode simplificar com o nome de machismo. As mulheres seriam inferiores na sociedade”, explica.
Membro da organização não governamental Cidadania, Estudo, Pesquisa Informação e Ação (Cepia) Jacqueline Pitanguy defende que a mídia precisa deixar de julgar com tanta perversidade as mulheres que demoram a sair de uma relação em que sofrem violência doméstica.
“A violência doméstica é repetição e tem uma direção, normalmente os homens batem e as mulheres apanham. Os homens ofendem, as mulheres se sentem humilhadas. É uma destruição também muito frequente do espaço doméstico, que representa o ambiente de segurança. Mas ocorre entre tapas e beijos. Não dá para tratar de violência doméstica, sem tratar da ambiguidade dos sentimentos humanos. Se não entendermos isso, fica muito fácil julgar a mulher”, declarou Jacqueline.
O professor de filosofia do Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde Sérgio Barbosa, que trabalha com homens autores de violência, disse que o perfil dos parceiros que cometem a agressão é recorrente. “Todos que chegam ao coletivo carregam o mesmo perfil, desconheciam que bater em mulher era crime. Chegam resistentes, mas no processo encontram outros homens e a desconstrução da violência também passa por um processo coletivo”, explica. Para o especialista, a imprensa precisa informar que existe também a superação para esses homens.
A secretária de Política para as Mulheres da Presidência da República, Aline Yanamoto, comentou sobre o feminicídio, a morte violenta de mulheres por razão de gênero. O percentual de mulheres assassinadas entre as mortes violentas é 10% no Brasil. “Mas tem uma peculiaridade muito sensível, as mulheres estão mais vulneráveis por serem mulheres. Cerca de 16 países tipificaram o feminicídio, esse cenário vem muito amparado pelo dado gravíssimo de que os países da América Latina estão entre os que mais ocorrem o feminicídio”, disse ela. (Agência Brasil; edição Carta Campinas)
Vamos lutar pelo fim da violência, contra a mulher em nosso país.