O entrevistado da mais recente edição da Revista Escrita é o poeta, palhaço e comunista, Jeff Vasques, que tem quatro livros publicados de forma independente. O autor, que também trabalha como ator, contribui com poesia e luta na revista Territórios Transversais do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), além de traduzir e divulgar a poesia de luta de Nuestra América na internet.
Na entrevista, Vasques falou sobre a política, a poesia, e de seu percurso, que partiu dos fundamentos do pensamento comunista, por versos revolucionários, até o engajamento do presente. Para ele, o ex-comunista Ferreira Gullar não passa hoje de um “reacionário escroque”.
Revista Escrita: Prezado Jeff Vasques, é algo presente em sua apresentação a natureza de sua orientação política. Gostaríamos que você nos explicasse seu comunismo.
Jeff Vasques: De início, eu parto da ideia de que vivemos uma crise. Não é uma crise do ser humano, uma crise genérica. É uma crise da sociedade capitalista. E é muito fácil visualizar isso, basta uma caminhada na rua e é possível ver a desigualdade se manifestando de alguma forma, ou ainda mais perto, basta olharmos no espelho: a crise do capitalismo se manifesta em nossas crises ditas “existenciais” também, o capitalismo nos faz sem-sentidos.
Por que a grande maioria dos explorados não se revolta? Graças ao poder de convencimento da classe dominante, que os faz acreditar que essa desigualdade sempre existiu, é assim mesmo, sempre será. Contudo, nas palavras de Marx, a contradição está sempre viva. É essa superação que buscam os comunistas: socializar os meios de produção e fazer de todos tudo que se produz.
Revista Escrita: Dentro da sua perspectiva e atuação, o que é a arte engajada?
Jeff Vasques: Em certo sentido toda arte é engajada, mas é claro que eu entendo quando vocês perguntaram a questão de saber de outra arte específica que mais diretamente se dirige à questão social, à luta, e aí eu vou me basear no Mario Benedetti. Ele tem uma boa classificação pra esse tipo de poesia de luta: diz que existem os que são grandes lutadores e igualmente grandes poetas, por exemplo, o José Martí, em Cuba, que foi o mártir da independência cubana, e é um poeta fantástico; ou o Roque Dalton, de El Salvador, a quem eu considero um dos maiores poetas da América, do século, autor de “O livro vermelho para Lênin”. E era, também, um puta militante, guerrilheiro. Além desses, há também os lutadores-poetas, que são, acima de tudo, lutadores, e em segundo plano, poetas, como o Marighella no Brasil. E, por fim, os poetas-lutadores, como o (finado) Ferreira Gullar, que já era poeta e em certo período da sua vida se engajou na luta. Falo “finado” Ferreira Gullar, porque há muito ele abandonou a perspectiva de transformação e se tornou um reacionário escroque. (Entrevista Completa na Revista Escrita)