Neste mês de junho, fará parte do Carta Campinas o trabalho artístico de Vera Ferro, integrando o projeto Carta Campinas Visuais.
Vera Ferro nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Artista visual, pintora, aquarelista, gravadora e fotógrafa, Vera estudou na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, onde também frequentou o Atelier de Gravura do Museu de Arte Moderna. Orienta alunos desde 1987. Em 1988 mudou-se para Campinas, onde vive.
Participou de exposições individuais e coletivas, salões de arte, onde recebeu vários prêmios, com obras em acervos de museus e de colecionadores particulares no Brasil e no exterior. Atualmente trabalha e orienta artistas em seu atelier.
Vera é autora de uma obra expressiva e diversa. Seus trabalhos se organizam em diferentes séries nas quais um estilo determinado se destaca, mas mantém-se em sutil comunicação com o estilo das demais. Entre as séries de trabalhos da artista destacamos algumas como “Colagens”, onde há um diálogo com a própria história da arte e com a cultura de forma geral por meio de montagens e rearranjos dos elementos que cuidadosamente se compõem no espaço da tela em uma profusão de letras, imagens, tinta e cartas de baralho.
Na série “Acqua”, as telas produzem a sensação em quem as vê de estar diante de um “espelho líquido” onde tudo se move. As pinturas geram um movimento líquido, diluído em um jogo de reflexos, luzes e sombras, em que a exploração cromática também desempenha um papel fundamental. Nas aquarelas e guaches que compõem a série, esse efeito de um refletir líquido se potencializa ainda mais em paisagens que surgem misteriosas e levemente insinuadoras de sua origem.
Entre a dissolução e concretude das formas, Vera também mostra uma proximidade com as formas geométricas, o que pode ser visto na série “Geometria”, onde círculos, quadrados, triângulos e losangos ganham uma textura própria e passam a representar lugares e ideias. Em “Aquarelas”, série anterior, a exploração dessas mesmas formas geométricas já estava dada, de maneiras que se ampliam depois.
Na bela série “Navegar é preciso”, a poesia que inspira o título se desenrola na geometria de velas, mastros e cores. As pinturas da série são fruto de observações sobre a vela e os cabos, feitas pela artista enquanto viajava em um veleiro, pelos mares de Andaman, na Tailândia, Mar Mediterrâneo e Mar Adriático. “Me apaixonei pela força absurda do vento e pela suavidade das velas . A vela é maleável, dócil, flui. A corda, estica, puxa e range com o vento. O vento faz a vela cantar, ela se enrola, se debate e ondula. O sol a atravessa, em sua transparência”, diz a artista.
Os desdobramentos da arte de Vera Ferro continuam nas séries “Duplas Amorosas”, “O Labirinto”, “Cartas de Amor em Tempo de Guerra”, onde a artista explora a presença da escrita nas aquarelas, tema recorrente em sua obra, “O Homem Medieval Contemporâneo”, “Crianças Desaparecidas”, conjunto de obras marcadas por um traço social, “Ferramentas”, “Índia”, “Os Músicos”, “Caligrafias”, “Geometria Poética”, “Cartas Enigmáticas”, “Série Urbana”, “Para Brisas”, “Um discurso ao abandono”, “Rio Araguaia”, “Turquia”, além de outros temas diversos que aparecem em suas obras, explorando a técnica da aquarela e da colagem.
Além de uma harmonia entre as obras de diferentes séries, todas elas deixam ver certa delicadeza e sensibilidade diante das coisas, dos lugares, das pessoas, dos símbolos. Instigada a refletir sobre questões colocadas pelo seu tempo, a arte de Vera Ferro vai acumulando, recortando, geometrizando, diluindo, amplificando suas impressões sobre o mundo e a condição humana.
(Maura Voltarelli)