O documentário Elena, de Petra Costa, que será exibido no Sesc Campinas, é de uma beleza estética única, de uma dor múltipla. Ele nos carrega para além do cinema e da narrativa convencional; é também uma verdade que atormenta não no enredo, mas nos sentimentos que nos levam a tentar esquecer. A arte se faz superação, sublimação, e a verdade da arte sempre vai ser a sua melhor estética.
Elena é uma busca incessante, coberta por imagens e vozes que nos falam de uma dor. Uma dor que se transformou em arte, como uma menina que se transforma em bailarina, em atriz, em estrela. A arte quem sabe explique o fim dessa busca, que é o nascimento da mágoa. Se não a arte, a psicanálise dê jeito.
Um dos grandes méritos do filme, que tem muitos, é a capacidade de criar uma narrativa em si mesmo e conseguir, de uma forma poética, no limite da pele e das lágrimas, tratar a superação da dor e da perda. É difícil encontrar um filme tão real e tão bonito sobre uma tragédia.
No pano de fundo de um enredo amargo, algo bastante enigmático. Elena parecia completa no Brasil, atriz de um grupo de teatro; notícias e reportagens davam conta de sua arte. Era pouco. Elena queria mais, queria o sonho americano, queria ser uma estrela, assim como somos carregados por nossos sonhos e obsessões cotidianas.
Elena foi para Nova York e estudava todas as artes, o dia todo, todos os horários, queria a Broadway e Hollywood. Mas era apenas uma brasileira diante do sonho americano e das oportunidades que viram pó de purpurina.
Elena largou o Brasil que seu pai, distante no filme, sonhou em construir, com um sonho comunista da juventude, um sonho de um país mais igualitário, um sonho que, por ironia do destino, também começou nos EUA, quando lá conheceu as ideias marxistas.
Em imagens e história, Elena deixa o fel escorrer sobre o sonho americano; um fel que se sente ao saber que o sonho americano de ser estrela da Broadway talvez tenha ajudado a matar a filha de um comunista.
Não vi o filme, mas pelo vídeo do trailer postado aqui, pude captar como a cineasta seguiu o sonho de sua irmã Elena em Nova York, traduzindo-o em imagens que pela sua efemeridade, fusão e tempo não deixam de também ser oníricas. Como se o trágico na vida de Elena – não vivenciado pela irmã-cineasta – só pudesse ser mostrado também como um sonho. Não sei se terei oprtunidade de assistir ao filme, pois não vivo no Brasil – seria uma pena.