RenanPor Renan Brandão

Em meio à crescente especulação imobiliária em Sumaré (SP), à falta de bons locais para se morar e ao abandono de grandes propriedades há décadas, a Ocupação Vila Soma resiste de forma organizada, mesmo com a ação judicial de reintegração de posse em vigor.
A ocupação tem mais de 3 mil famílias e cerca de 10 mil pessoas, que continuam se manifestando em contraposição a decisão do Judiciário e aguardando uma posição da Prefeitura da cidade.
A coordenadora da Associação de Moradores da Ocupação, Tamires Souza Caires, afirma em entrevista ao Carta Campinas que todo o problema já está encaminhado para ser resolvido. “Só o que falta no momento é o parecer favorável da prefeitura”, diz.

Ela também fala sobre desocupação e confronto com a Polícia Militar. Para Tamires, não existe qualquer possibilidade de confronto entre a ocupação e a PM e que há um diálogo frequente acontecendo entre ambos.

CC: Tamires, poderia nos explicar um pouco sobre a história da Ocupação da Vila Soma?
Este terreno estava abandonado a mais de 30 anos, aconteciam muitos roubos nas proximidades, estupros e abandono de cadáveres no terreno.  Ele estava completamente sem função social e em Junho de 2012 um grupo de cerca de 20 famílias, todas da própria cidade de Sumaré fizeram um acampamento com lonas no local; estas famílias limparam o local e utilizaram ele como lar.

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Prefeitura de Sumaré não recolhe o lixo no local

 

CC: Atualmente quantas pessoas ocupam o local?
Em média 3 mil famílias estão cadastradas na associação. A própria Polícia Militar estima que são cerca de 10 mil pessoas, ao menos metades destas casas são de alvenaria.

CC: Atualmente existe alguma infraestrutura no local? Como energia elétrica, água encanada ou saneamento básico?
Não, atualmente nós abastecemos as caixas de água com caminhões pipa, pagos pelos próprios moradores, já a energia é improvisada; em relação ao saneamento básico não há, não existe ajuda da prefeitura para recolhimento do lixo, portanto fica um depósito exposto a céu aberto.

CC: Tamires, existe alguma comunicação com a prefeitura, houve alguma tentativa de conciliação acerca da desocupação do imóvel?
A tentativa de conciliação foi realizada no dia 03 de setembro de 2014. Diante de todas as propostas houve um prazo de 6 meses, que encerrou-se no dia 03 de março de 2015. Entre este tempo ocorreram mais de 10 reuniões de conciliação com membros do governo federal, governo estadual, prefeitura municipal, da massa falida do SOMA, da associação de moradores da ocupação e do CDHU. Nestas reuniões eram discutidos planos de realocação dos moradores ou de compra da área da massa falida.
A Caixa Ecônomica Federal viabilizou o interesse de compra da área, ou de área semelhante, e o governo federal disponibilizou o programa Minha Casa Minha Vida a entidades para poder atender às famílias aqui alocadas, assim como o CDHU também ofereceu entrar com uma contrapartida. O que coube para a prefeitura foi a autorização do empreendimento e aprovar uma das 5 áreas indicadas, que seriam na região do Matão, Maria Antônia, alguma das regiões do Picerno ou até mesmo a região do Jardim Paulistano. A prefeitura deu parecer contrário a todas estas áreas, temos o apoio dos engenheiros e arquitetos do grupo Usina que é ligado a Unicamp e eles contrariaram todas as posturas dos arquitetos e engenheiros da prefeitura alegando que estas áreas são sim possibilitadas de receber as habitações.
A construtura Encamp que realizou o projeto, já o apresentou na conciliação e obteve o parecer favorável de todos os membros do projeto.  A única parte que parece não ter vontade de solucionar o problema é a própria prefeitura. Nós queremos resolver o problema e se for preciso realocar todas as famílias que aqui ocupam e devolver a área a massa falida da Soma, porém necessitamos que a prefeitura esteja disposta a resolver o problema pois é só a vontade dela que falta.

CC:Existiu algum contato entre a PM e a associação de moradores para tentar amenizar a situação e evitar algum conflito?
Existe um contato diário, e é uma boa comunicação com a PM. Nós tivemos um encontro com a PM e ficou bem claro que não existe a possibilidade de um confronto e que um novo “Pinheirinho” não poderia acontecer no estado de SP  e que a Polícia Militar está preocupada com isso. Eles também afirmam que isso é muito mais um problema social do que um problema de polícia, e ainda ratificaram que não se pode esquecer que a ordem judicial deve ser cumprida, mas que atrás desta ordem judicial existem famílias, e é isto que esperamos da PM.