Diante de um cenário de dificuldades no mundo do trabalho, o economista Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo e ex-candidato a prefeito de Campinas, defende “uma nova agenda do trabalho civilizado”, com ingresso no mercado apenas depois do curso superior – o que já acontece com “os filhos dos ricos” – e com jornada semanal menor. “Temos uma massa de jovens que são heróis do Brasil, porque trabalham e estudam”, afirmou, durante o 20º Congresso Nacional dos Procuradores do Trabalho, encerrado no sábado. Para ele, é possível imaginar a entrada no mercado de trabalho depois dos 22 anos e com jornadas semanais cada vez mais reduzidas.
Hoje, a situação é inversa, conforme ele mesmo observou em sua palestra, com extensão da jornada. “Você sai (do serviço) e leva para casa. Há uma exploração do trabalho, uma apropriação não registrada”, diz Pochmann.
Segundo ele, o o atual ambiente econômico “continua constrangendo” a evolução do emprego. Em um quadro de crescimento “medíocre”, lembrou, ressurgem as possibilidades de regressão por meio da flexibilização do trabalho. “Se abre uma rodada que se imaginava interrompida.”
Isso acontece em um momento de alguma recuperação. O Brasil, que de 1980 para 2000, passou da oitava para a 13ª economia mundial, agora é a sétima. A participação do trabalho na renda nacional foi de 50% para 39%, e hoje está entre 47% e 48%. “O que permitiu fazer isso praticamente se esgotou”, diz o professor. “Não é possível repor, é preciso fazer mudanças maiores.”
De acordo com Pochmann, 70% da redução da desigualdade nos últimos anos se explica pelo mercado de trabalho. O Brasil criou 22 milhões de empregos formais, sendo 95% com rendimento de até 1,5 salário mínimo. “Essa melhora mais dos ‘de baixo’ que dos ‘de cima’ causou enorme desconforto”, afirma, observando que há um setor da sociedade, mais privilegiado, que não aceita esse movimento.
Por outro lado, para manter o crescimento é preciso garantir investimento. Para o economista, o país viveu três períodos de “blocos de investimento”: no governo Getúlio Vargas (com criação de empresas como CSN e Petrobras e expansão da indústria de base), na gestão Juscelino Kubitschek (com o Plano de Metas e o desenvolvimento de uma indústria de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos) e Geisel, na ditadura, com um Plano Nacional de Desenvolvimento. Posteriormente, houve “ciclos de consumo”. O Brasil precisa de grandes obras de infraestrutura, defende.
Ele também identifica um processo de alienação, com o que chama de contaminação da perspectiva do “curtoprazismo”, oportuna, principalmente, para o mercado financeiro e especulativo. “Estamos cada vez mais prisioneiros de uma abordagem de curto prazo.” (RBA)
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