Qual manhã, ela chega

Por Wellington Fernandes

Apontar direções                                                             

Aportar brevemente

Na aresta dos precipícios

Precipitar em seu prepúcio

E beber do cio em tua flor mistério

Roçar nas tuas costas

Como o mar

arranhando as rochas, bem devagar e sempre

 

E as vagas, e as vagas, e as vagas

Escrevendo uma outra história

De carícia e erosão

 

Fosse o tempo, era rio

E corria por tuas frestas

E arestas e

E as vagas, e as vagas, e as vagas

 

Até que morto me fizesse

Vagalume, ócio e rocio

E minha saliva te cicatrizaria

Tal qual uma parida recente

lambe prestes a cria

E se lambe como quem fecha

A porta por onde rebentou a vida

 

Desabrocha de mim qual manhã insegura.

Enquanto eu, outono que era

Desfaço-me sob teu hesitante luzir

Pareces uma vela pequena

Com medo de alumiar

Oscilando ante a brisa que nem se atreve

 

Fosse um barco, era canoa

Fosse da flora, seria botão

Ou minúscula orquídea

a equilibrar-se entre a brisa e tempo.

 

Rebenta em mim, vida nova,

Inaugura teu figurino,

E vira essa página qual folha caída ou arrancada

 

Sou eu quem te anuncia:

Manhã esperada!

 

 


Discover more from Carta Campinas

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Comente