Músico, compositor, arranjador e poeta, Marcelo Diniz é ativo na cena regional desde 1995 e começou a organizar suas incursões na poesia no ano de 2010: logo em janeiro criou o blog “O Sonho Analógico, publicando poesias e devaneios mundanos de todo o cotidiano.
Desde então, já é dono de cinco publicações: “Entre Sonhos e Muros” (2011), “Entrelinhas” (2012), “Cem Poemas Cem Poetas” (2012), “Sonho Cotidiano” (2013) e “Parthenon” (2014).
O trabalho do artista pode ser encontrado em seu site. O músico e poeta, gentilmente, nos recebeu em sua casa para comentar a respeito da cena literária local, os percalços da publicação e sua visão acerca da produção de poesia.
Revista Escrita: Gostaríamos de começar comentando a sua produção: você a enquadraria em alguma escola literária?
Marcelo Diniz: Lá vou eu poetizar. Eu costumo brincar que eu sou um poeta do despretencionismo. Nós tivemos o romantismo, o barroco etc. Eu sou do despretencionismo: não tenho a pretensão de ser nada além daquilo que está acontecendo no momento.
Revista Escrita: Existe uma cena cultural de literatura na Região Metropolitana de Campinas?
DM: Existe. Em toda região. A cena existe, nem sempre de forma reunida, mas sempre existem as pessoas interessadas pela leitura. Em Campinas existem alguns movimentos literários e encontros de poetas. Aqui, nós temos o Portal do Poeta Brasileiro, que possui a editora que publicou meu terceiro livro, “Sonho Cotidiano”, chamada Iluminata. Eles fazem reuniões mensais, geralmente nas segundas-feiras.
Também existe a Parada Poética, organizada por um pessoal da Unicamp, que abrange quatro cidades e contempla não só o poema em si, mas a poesia no reggae, no rap etc. Ela acontece geralmente na Casa São Jorge, em Barão Geraldo.
A gestão pública também tem promovido muita coisa por meio da Estação Cultura, Estação Guanabara, mas ainda falta um olhar mais destacado para os literatos da região.
Revista Escrita: Excluindo-se a agenda das políticas públicas, o que falta para o fortalecimento da cena literária?
MD: Essa é uma boa pergunta. Não sei exatamente o que falta, mas algo que não se vê muito são artistas de fato. Existem pessoas que escreveram um livro de poemas, mas não são poetas. Por exemplo, um médico que decide publicar. E que, às vezes, é até muito bom, mas não é alguém que vai jogar a cena para frente.
Então o que falta mesmo são artistas, escritores, poetas, esse pessoal sair de trás do muro e dar a cara ao tapa, ao beijo.
Revista Escrita: O que significa “levar a cena para frente”?
MD: O que eu quero dizer é que não basta ser formado em Medicina e escrever alguns poemas. É necessário o sujeito formado em Filosofia, Letras, que tem algo a dizer com a poesia. Não são só poemas, são mais poemas.
Não só na cena literária, mas na cena musical também. Muitas vezes vemos pessoas que estão montando uma banda porque tem aquela arte dentro de si e gostam de tocar numa sexta-feira à noite. Aí surge uma questão delicada, pois essas pessoas estão ocupando aquele espaço.
Revista Escrita: A sua poesia se refere muito ao cotidiano. A descrição segue e antes dela realizar suas implicações, você coloca alguma imagem de fuga e dispersão, como, por exemplo, se perder no vento. O cotidiano pede por uma fuga? Ele é insuportável?
MD: Às vezes sim. Não sei se sempre. Todos nós vivemos no mesmo cotidiano, cada um do seu jeito, e às vezes ele é massacrante, um leão engolindo tudo. Mas, às vezes, você pode passar a mão na juba do leão, limpar alguma coisa caindo do queixo, e isso é a vida: tem dias em que o leão está bravo, tem dias em que ele está manso. (Esse texto faz parte da parceria Revista Escrita/Carta Campinas. Entrevista completa no site da Revista Escrita)