Para iniciar a captação de água da forma normal no Cantareira, as represas precisam receber cerca de 20% do volume de água de todo o sistema, ou seja, 18,6 bilhões de litros de água. Haja chuva em fevereiro e março. Caso isso não aconteça, o sistema entrará no período seco com o volume negativo, ou seja, abaixo de zero. Até chegar ao nível zero, a água só pode ser retirada com equipamentos provisórios instalados pelo governo ao custo de R$ 80 milhões, somente no primeiro volume morto.
Veja análise da Ong Aliança pela Água em que explica como a Sabesp induz ao erro.
Com as chuvas da última semana, felizmente o nível do Sistema Cantareira apresentou pequena recuperação. O cenário, porém, continua gravíssimo. A Aliança pela Água chama a atenção à interpretação equivocada que pode decorrer da forma como os dados vem sendo divulgados oficialmente pelo governo do Estado através da Sabesp.
O volume útil do sistema Cantareira é de 982,07 bilhões de litros; essa capacidade foi zerada em julho de 2014, quando a Sabesp deu início ao uso da primeira cota do Volume Morto. O Volume Morto (ou Reserva Técnica) corresponde ao volume de água que fica abaixo da linha de captação e que, em tese, não deve ser utilizado. A primeira cota do Volume Morto era de 182,5 bilhões de litros, ou o equivalente a 18,5% do volume útil do sistema. Em novembro de 2014, com o fim da primeira cota do Volume Morto, iniciou-se a captação da segunda cota, com uma quantidade de água de 105 bilhões de litros, ou 10,6% do volume útil do sistema.
Sabesp induz a erros de interpretação.
Os cálculos feitos pela Sabesp sobre os níveis do Sistema Cantareira consideram a quantidade atual de água nas represas dividido pelo seu volume útil. Hoje, o sistema tem 93 bilhões de litros de água. O nível de 9,5% divulgado pela Sabesp e reproduzido pela imprensa equivale à divisão dessa quantidade de água (volume atual = 93 bilhões de litros) pelo volume útil (982,07 bilhões de litros).
93 bilhões de litros (VA)
___________________ = 9,5%
982,07 bilhões de litros (VU)
A quantidade de água existente hoje (93 bilhões), por sua vez, corresponde a 88% da segunda cota do Volume Morto. Ou seja, o volume atual equivale a um déficit acumulado de – 19,8% em relação ao volume útil. A conta fica negativa porque inclui a primeira cota do volume morto que já foi esgotada e 88% da segunda cota.
Em fevereiro de 2014, o nível do Cantareira divulgado pela Sabesp era de 18,2%. Este índice, porém, era relativo ao volume útil total e não contabilizava o Volume Morto. É errôneo, portanto, comparar os índices de 2014 e 2015 sem atualizar os números com as cotas do Volume Morto.
Nível seguro para evitar racionamento (ou “gatilho”)
O volume de 14% no Sistema Cantareira divulgado essa semana como nível de segurança para evitar racionamento, deve ser visto com ressalvas. Se for 14% em relação ao cálculo que é feito hoje, isso corresponderia à segunda cota do Volume morto preenchida e uma pequena parte da primeira, resultando ainda em um déficit de -15%. Neste cenário, ainda seria necessário manter a redução da retirada de água do Sistema Cantareira por meio das ações em curso: bônus, multa, redução de pressão (ou rodízio não oficial) e aumento da transferência de água de outros mananciais, em especial Billings e Guarapiranga para suprir as regiões abastecidas pelo Cantareira e Alto Tietê.