Discutir os impactos de fatores sociais e ambientais na vida das pessoas para influenciar a percepção de que o acesso à saúde vai além da assistência médica – este é o objetivo da delegação brasileira que vai ao 14º Congresso Mundial de Saúde Pública, entre os dias 11 e 15 deste mês, em Calcutá, na Índia. O evento, cuja o tema é Pessoas Saudáveis, Ambientes Saudáveis, reunirá pesquisadores e profissionais de gestão de organizações internacionais.
O evento, promovido a cada três anos, pelo Congresso da Federação Mundial de Associações em Saúde Pública, tem como um de seus objetivos influenciar as decisões da Organização das Nações Unidas (ONU), que discute a adoção das novas Metas do Milênio. Entre os 17 novos objetivos previstos, está o de “assegurar uma vida saudável e promover bem-estar para todos”.
Na avaliação dos especialistas, a meta precisa estar ligada aos demais objetivos, como acabar com a pobreza, garantir acesso à água, ao saneamento e à energia elétrica, e o cuidado com o meio ambiente.
Representando a Federação Mundial de Associações em Saúde Pública o conselheiro e ex-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) Luiz Facchini, explica que as condições de saúde das pessoas são determinadas por vários fatores, entre os quais, a pobreza é um dos principais.
“A escassez de água, como vemos hoje no Sudeste, sendo persistente no Nordeste, a poluição atmosférica são problemas de todos, mas que afetam mais os pobres”, disse. “Essas pessoas vivem em moradias precárias, passam horas no transporte público apertado e acumulam uma série de problemas de saúde referentes a essas experiências”, completou ele, que é professor de medicina da Universidade Federal de Pelotas.
O secretário executivo da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS), Francisco Campos, que representará o Brasil no congresso, acrescenta que, para garantir uma vida saudável, os países precisam de medidas nas áreas social e ambiental. “Políticas de saúde não se restringem à assistência médica. Ter uma casa adequada, acesso à seguridade social (aposentadoria, pensão, auxílio-doença, por exemplo), deixa a pessoa mais tranquila, portanto, mais saudável.”
A discussão sobre a cobertura universal de saúde, como um direito humano e obrigação do Estado, também estará na pauta do evento. Campos diz que, apesar dos problemas, o Brasil é o único país com população acima de 200 milhões de pessoas, cujo acesso a todos os serviços é gratuito – desde as consultas até um transplante de órgãos – e está na Constituição.
“Isso significa, em muitos países, se a pessoa sofrer um acidente, que os custos com o tratamento podem significar a bancarrota de uma família. Ou seja, a saúde, nestes lugares, não é parte do pacote básico da cidadania”, criticou o secretário executivo da UNA-SUS.
No congresso, a expectativa é que o impacto de violações de direitos humanos na saúde sejam avaliados. “Temos resquícios de práticas absolutamente condenáveis no mundo como trabalho escravo, exploração de mão de obra infantil, violência e coisas muito piores que impactam diretamente na saúde e vida das pessoas”, destaca Francisco Campos. (Agência Brasil)