O futuro é sombrio para o neonato ano de 2015 principalmente no campo econômico. Como o campo econômico é o campo que importa, já que gostamos de consumir e mostrar aos outros o quanto temos e o quanto mais podemos ter, 2015 não será nada promissor e ponto final.
As melhores projeções apontam para uma estagnação da economia, com aumento da inflação e uma crise internacional, o que apenas manteria as coisas como estão ou quando muito, traria um “discreto e medíocre desenvolvimento”.
Manter as coisas como estão significa que continuaremos adorando e correndo atrás do dinheiro, um papelzinho ao qual alguém um dia atribuiu muito valor e todos acreditaram. Seguiremos sem olhar as paisagens do caminho e sem ver sobre quem estamos pisando em nossa disparada.
Será mantido o clima de animosidade e ódio entre os devotos de “Super Aécio, o messias” e os fãs inveterados da “Super Dilma, a paladina do bem”, arqui-inimigos que continuarão dividindo o país em dois blocos dispostos a colocar água no chopp um do outro. A manipulação midiática e a deturpação dos fatos também continuarão muito bem, obrigado, para que a turma do Super Aécio continue culpando a Super-Dilma pelos males do país e a turma da Super Dilma continue dizendo que as coisas só não estão melhores por culpa do Super-Aécio. As pessoas, convenientemente, continuarão ocupando lados opostos no front de uma guerra que não interessa a elas. Continuarão se subestimando e agredindo mutuamente, ignorando que a união do povo é essencial para a transformação social.
Então, na melhor das hipóteses, em 2015 o povo manter-se-á dividido e ignorando os pontos em comum que possam contemplar tanto a seres humanos de esquerda quanto aos de direita, na mesma proporção.
Continuaremos explorando os pobres de dinheiro de todas as idades e deixando que morram de doenças ridiculamente curáveis por não terem acesso a um sistema de saúde digno, porque todos têm direitos nessa vida, mas quem tem menos dinheiro tem menos direitos, no mundo das coisas como estão.
Continuaremos confortavelmente aceitando uma educação que nos quer ignorantes, já que teremos a educação dos mais pobres para compararmos com a nossa e nos consideraremos privilegiados.
Perpetuaremos os desfavorecidos na condição de desfavorecidos, para que possam gerar, durante suas vidas, coisas desnecessárias que apenas os ricos de dinheiro irão usar. Continuaremos fechando os olhos para as crianças sem infância que produzem as roupas e os eletrônicos que usamos e jogamos fora. Continuaremos olhando impassíveis nossos filhos jogarem fora suas infâncias graças aos eletrônicos produzidos por outras crianças sem infância.
Também continuará na mesma proporção a exploração dos limitados recursos do planeta. Continuaremos desmatando a Amazônia, vendendo madeira ilegal a preço de banana para a União Europeia e U.S.A e prendendo o pobre que segura a moto serra e que logo será substituído por outra ferramenta humana novinha em folha.
Na melhor das hipótese continuaremos impondo nossas convicções pessoais forçosamente às pessoas que simplesmente sofreram influências de vida diferentes das nossas e continuaremos fechados a ideias novas que apontem para atitudes práticas no caminho da paz e da sustentabilidade.
Continuaremos acreditando em super-heróis, em mitos, em contos de fadas e que as coisas mudarão muito graças à próxima eleição.
Na melhor das hipóteses continuará havendo escravos, famintos e ignorantes. Haverá poderosos, gananciosos, enganadores e assassinos, que continuarão sendo os donos do rebanho de escravos famintos e ignorantes. Continuará havendo os que enxergam tudo isso, mas temem lutar contra esse sistema e se confortam fingindo que tem que ser assim.
Em suma, a melhor das hipóteses prevê o mesmo nível de explorados gastando suas vidas no trabalho de enriquecer magnatas e aprendendo a exercitar sua inferioridade e se houver um “discreto e medíocre desenvolvimento”, haverá tudo isso, mas um pouquinho mais.
Ah, mas há a pior das hipóteses!
Na pior das hipóteses a situação de desequilíbrio global chegará a um limite insustentável. Países devedores declararão moratória. Crises internas e internacionais desestabilizarão as economias e os conflitos sociais serão inevitáveis. A situação entrará em colapso e logo será declarada a falência múltipla dos órgãos do sistema. Grandes corporações não se sustentarão, pois nunca foram autossustentáveis e as pessoas perderão seus empregos. Haverá milhares de suicídios. Talvez os revoltados crentes na Super Dilma e no Super Aécio entrem num conflito sangrento e se extingam mutuamente. O mesmo talvez aconteça com todos aqueles crentes que ao invés de viverem conforme suas crenças, vivem de não tolerar as crenças alheias. Talvez ocorram pequenas guerras que suscitarão uma grande guerra e talvez toda a humanidade se extinga vitimada pela catástrofe atômica.
Mas a pior das hipóteses tem outras vertentes, não precisa ser assim tão catastrófica.
Talvez o ser humano reconheça que andava ganancioso demais, querendo mais para si do que o que o planeta teve condição de dividir de forma equilibrada. Talvez nos estabeleçamos em comunidades pacíficas para demonstrar que somos uma espécie altamente adaptável, mas que vínhamos vivendo e morrendo por dinheiro e agora viveremos por vidas e pela vida. Entenderemos que qualquer vida vale mais do que qualquer papel.
Talvez, na pior das hipóteses, as pessoas notem que há discussões historicamente inócuas que só servem para segregar e que não levam a nenhum convencimento, porque não há necessidade de convencer, mas de viver com respeito e tolerância para com a espécie imperfeita que continuaremos sendo.
Na pior das hipóteses, sistema, talvez as pessoas que tenham perdido seus empregos notem que não perderam suas vidas e nem sua força de trabalho e que há um planeta novo sob seus pés. Talvez encontrem uma motivação de vida mais nobre do que se sustentar num consumismo perpétuo. A força de trabalho se voltará para atividades mais essenciais do que produzir mil de tanques de guerra, mil Ferraris, um milhão de tablets, transferir um bilhão de dólares pra Suíça, matar um milhão de galinhas, chefiar um milhão de robôs humanos em linhas de produção, ser um robô humano numa linha de produção, ser um soldado programado para matar semelhantes, comandar um exército programado para matar exércitos semelhantes. Há e haverá tarefas mais nobres que essas.
Talvez os detentores de grandes fortunas, de grandes privilégios e de grandes poderes não consigam mais ocultar essa desigualdade e muito menos mantê-la. Talvez alguns fiquem constrangidos e abram mão de suas ganâncias em prol de viver uma vida digna. Caso não se constranjam, por outro lado, não terão mais o poder da exploração econômica. Ninguém mais abrirá mão de viver sua vida em troca daquele papelzinho.
Talvez, sistema, o poderio bélico também exerça menor influência sobre a humanidade do que exerce hoje, já que as pessoas saberão que têm autonomia sobre suas próprias vidas e dificilmente optarão por viver matando seus irmãos, se podem fazer bem a eles. Dificilmente optarão por seguir ordens de quem deseja matar pessoas, se podem optar por seguir líderes imbuídos de valorizar a vida, se podem ser livres. Dificilmente optarão por viver em guerra se podem viver em paz.
Mas na pior das hipóteses, ainda assim haverá os belicosos, os maníacos, os ladrões e os assassinos, como há hoje. A diferença é que serão mais facilmente reconhecidos, estudados e evitados. A diferença é que jamais terão poder de controlar a vida de milhões como o têm hoje, pois as pessoas terão entendido que foi um erro depositar todas as esperanças nas ações de Super Dilmas e Super Aécios ao invés de depositá-las em si próprios. As pessoas terão entendido que foi um desperdício de vida gastar seu tempo dando super poderes a um e odiando o outro. Então os belicosos, os maníacos, os ladrões e os assassinos jamais serão protegidos por leis tendenciosas e jamais comprarão sua inocência com dinheiro, um papelzinho que não vale mais nada. Os danosos à sociedade serão em menor número menos danosos do que hoje são hoje.
As pessoas acordarão da ilusão de que o melhor da vida virá depois da morte e farão todo o possível para viverem o seu melhor em vida, pois saberão que têm a capacidade de deixar como lembranças para as gerações futuras, mais do que mil de tanques de guerra, um milhão de tablets, uma transferência bilionária pra Suíça, um milhão de galinhas mortas etc. Deixarão para seus descendentes mais do que uma vida devotada àquele papelzinho e desejarão ser mais úteis do que isso antes de morrer. Entenderão que a morte é a sequência natural da vida e não um castigo ou uma ameaça. Entenderão que, para que a humanidade evolua, só se pode evitar de matar, não de morrer. Não temerão a morte, o que tirará o poder daqueles que hoje vivem de ameaças, mas desejarão viver intensa, longa e plenamente.
Na pior das hipóteses, sistema, as pessoas entenderão que os recursos do planeta são escassos e passarão a utilizá-los de forma respeitosa, sustentável e racional. Conseguirão entender as mensagens da Natureza, já que não estarão cegos por valores ilusórios.
Na pior das hipóteses o colapso do sistema despertará na humanidade uma nova percepção de valores. Enfim entenderemos que era esta a mudança esperada e que não precisávamos tê-la temido tanto.
Por me considerar um otimista incurável e por não ter medo da mudança e nem dos sonhos, aguardo ansioso pela pior das hipóteses e pelo mundo onde as pessoas poderão vencer na vida sem criar legiões de derrotados.
Luis Fernando, gostei do seu texto porque não é sectário.É triste quando temos só duas opções – direita e esquerda, quando ainda nem sabemos o que tais rótulos representam de fato.
O pensamento é este, Cida. Sentimos mais necessidade de ter certezas, defendê-las e julgar a partir delas do que de continuar aprendendo a partir de nossa ignorância. Querendo ou não, somos muito mais ignorantes do que sabedores e isso não é inaceitável nem torna a vida menos bela, pelo contrário. Muito grato!! Ah, se me permite, neste contexto: 2)A mudança em si…
http://cartacampinas.com.br/2014/05/pequena-coletanea-do-interior/