O paulista Gabriel Medina, 20 anos, tornou-se hoje (19) o primeiro brasileiro a faturar o título de campeão mundial de surf profissional. Após vencer o havaiano Dustin Payne e avançar para as quartas de final da décima primeira e última etapa do circuito, disputada nas ondas de Pipeline, no Havaí, Medina viu seu conterrâneo Alejo Muniz vencer o australiano Mick Fanning, 33, segundo colocado no ranking, o que lhe garantiu o título da temporada. O Billabong Pipe Master ainda não foi concluído.
Acompanhado pela internet por milhares de pessoas, o campeonato mobilizou Maresias, praia de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, onde Medina mora e aprendeu a surfar. “O clima aqui é de uma final de Copa do Mundo”, disse à o bacharel em direito e surfista, Marcos Antônio Ferreira Tenório Júnior. Com um grupo de amigos moradores de São Sebastião, todos praticantes de surf, Júnior viabilizou a instalação de um telão para exibir o evento para quem não tem acesso à internet. “Muitos jovens pobres de São Sebastião surfam, e o sonho de muitos é virar surfista profissional. Isso já acontecia antes, mas agora, com o sucesso do Medina, do Miguel Pupo e do Filipe Toledo, ficou ainda maior. A praia, hoje, parou”.
A conquista de Medina coincide com os 80 anos da prática do surf no país, quando o primeiro brasileiro se equilibrou sobre uma pesada prancha de madeira e deslizou sobre uma onda na praia de Santos (SP), em 1934. Desde que o esporte das ondas se profissionalizou, no final da década de 1970, vários brasileiros conquistaram títulos mundiais na divisão de acesso à elite do surf e em outras categorias (amador e júniores) e modalidades – longboard (praticado com pranchas maiores); ondas gigantes e stand up paddle (SUP). Mas o melhor resultado alcançado até agora por um brasileiro no ranking final da categoria mais disputada foi o terceiro lugar do cabofriense Victor Ribas, em 1999.
Medina não é só o primeiro brasileiro a conquistar o campeonato da principal categoria do surf mundial, ele também é o primeiro latino-americano a se sagrar o melhor do mundo desde 1976, quando foi criado um circuito mundial com várias etapas, nos moldes do atual. Antes disso, apenas o peruano Felipe Pomar exibia o título de campeão do mundo, obtido em 1965, com a vitória no primeiro campeonato mundial oficial da história, ocorrido em uma única etapa. A partir daí, o esporte foi dominado por norte-americanos, australianos e havaianos (apesar de o Havaí ser um estado norte-americano, seus surfistas competem como se fossem uma nação independente).
Por pouco Medina não tirou do fenômeno Kelly Slater o título de mais jovem surfista a vencer o circuito mundial. Quando conquistou o seu primeiro título, em dezembro de 1992, Slater estava prestes a completar 20 anos e dez meses. Já Medina completará 21 anos na próxima segunda-feira (22). Slater, que está com 42 anos, é também o mais velho surfista a se sagrar campeão de um esporte que, além de força física, exige flexibilidade, resistência e equilíbrio.
O título da Associação Profissional de Surf (ASP) consagra a ascensão no cenário internacional do jovem atleta que há tempos era apontado como uma das maiores promessas do esporte. Morador de São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, Medina começou a surfar aos 9 anos, por influência do padrasto e, hoje, técnico, Charles Rodrigues. Habituado às fortes ondas da Praia de Maresias, ele começou a confirmar as expectativas já em 2009. Com apenas 15 anos de idade e ainda amador, tornou-se o mais jovem surfista do mundo a vencer uma prova seis estrelas do circuito profissional mundial, disputada na Praia Mole, em Florianópolis (SC). Seu adversário na final, o também brasileiro Neco Padaratz, tinha 32 anos e larga experiência nesse tipo de competição.
Em 2010, o sebastianense venceu o torneio promovido pela Associação Internacional de Surf (ISA), na Nova Zelândia, e se tornou campeão mundial na categoria abaixo dos 18 anos. No segundo semestre de 2011, com então 17 anos, Medina ingressou no seleto time de 36 surfistas que disputam a primeira divisão do circuito profissional, tornando-se o mais jovem surfista a ingressar no pelotão de elite da ASP. E o fez em grande estilo, vencendo duas das cinco etapas que disputou em meia temporada – o que lhe garantiu o 12º lugar no ranking anual. Em 2012, quando participou de todas as etapas, Medina alcançou a sétima posição. No ano passado, terminou em 14º.
Este ano, o brasileiro liderou o ranking durante praticamente todo o ano – um fato raro. Das 10 etapas já concluídas, o brasileiro já venceu três – e ainda pode vencer esse último evento. O tricampeão mundial Mick Fanning também ganhou três campeonatos, mas enquanto o brasileiro já chegou quatro vezes à quinta colocação, o australiano obteve menos resultados semelhantes, terminando em posições piores que Medina nos outros eventos. Já o onze vezes campeão do mundo Kelly Slater até aqui não venceu nenhuma etapa em 2014.
Patrocinado por uma das mais poderosas multinacionais fabricante de artigos de surf desde 2009, a crescente popularidade de Medina lhe rendeu contratos com empresas estranhas à modalidade, como uma montadora de carros de luxo, uma empresa telefônica e fabricantes de celular e de refrigerantes. Só em prêmios, Medina recebeu, este ano, US$ 391 mil. Fora patrocínios, bônus por resultados, royalties por produtos com seu nome e outras ações de marketing. (Agência Brasil)