Pelo menos três estudos da Unicamp mostram que a água potável está contaminada por substâncias que não são legisladas. Ou seja, como a lei não exige, o tratamento não é feito pelas empresas.
O professor Wilson de Figueiredo Jardim, do Laboratório de Química Ambiental (LQA) do Instituto de Química, já orientou pesquisas que mostraram essa situação, que pode se agravar com o abastecimento da população com água proveniente do tratamento de esgoto, como pretende a Prefeitura de Campinas.
Pelo menos dois estudos foram feitos em Campinas, em 2006 e 2011 e outro sobre as capitais brasileiras, em 2012.
Os principais contaminantes pesquisados na Unicamp, que não são analisados para considerar uma água potável, são os fármacos (princípios ativos de remédios), hormônios sexuais e produtos industriais. As substâncias hormonais são chamados ‘interferentes endócrinos’, o que pode alterar o funcionamento das glândulas de animais e seres humanos. Em 2006, uma pesquisa orientada pelo Wilson de Figueiredo Jardim, detectou vários hormônios como estrona, estradiol, progesterona, hormônio similar à testosterona e outros, além de fármacos usados pela população como diclofenaco, dipirona, paracetamol e outros, além de produtos químicos.
Em outro estudo, de 2011, verificou-se os hormônios tanto na água da captação quanto na tratada, a partir de amostras coletadas da Bacia do Rio Atibaia. A pesquisa constatou que os sistemas de tratamento utilizados atualmente não são suficientes para eliminar da água que chega à torneira das residências uma série de contaminantes, entre eles o estrógeno, popularmente conhecido como hormônio feminino. Expelida pelo organismo, essa substância, na forma natural ou sintética (presente nas pílulas anticoncepcionais), vai parar nos mananciais através do esgoto doméstico. “Este composto tem a capacidade de afetar o sistema endócrino de animais aquáticos, como os peixes. Ainda não sabemos, porém, qual o seu efeito no organismo humano. De toda forma, é uma situação preocupante”, afirmou o professor Wilson de Figueiredo Jardim, orientador da pesquisa ao jornal da Unicamp.
Em um estudo de 2012, foram analisadas a água em 16 capitais brasileiras, onde vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas, para analisar a contaminação por substâncias ainda não legisladas, mas que podem ser potencialmente nocivas à saúde humana. Os pesquisadores identificaram a presença de cafeína em todas as 49 amostras coletadas no cavalete (cano de entrada) de residências espalhadas pelas cinco regiões do país. Para o professor Wilson Jardim, esse dado é relevante, pois a cafeína funciona como uma espécie de traçador da eficiência das estações de tratamento de água. Ou seja, onde a cafeína está presente, há grande probabilidade da presença de outros contaminantes.
Além de cafeína, os pesquisadores também encontraram concentrações de atrazina (herbicida), fenolftaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal).
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