Para dar uma destinação mais sustentável e econômica ao bagaço de uva, normalmente descartado pela vitivinicultura (processo que envolve o cultivo da fruta e a fabricação de vinho), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu um insumo a partir desse resíduo que pode ser utilizado por outras cadeias produtivas, como as indústrias alimentícia, farmacêutica e cosmética. O extrato, antioxidante e com alto valor nutricional, pode ser utilizado em barras de cereais, bebidas probióticas, farinhas e em usos não alimentícios, como óleo ou agente antioxidante. O projeto começou a ser desenvolvido em 2008 pela Embrapa Agroindústria de Alimentos e conta com a parceria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos Lourdes Cabral explica que a cada 100 litros de vinho processados são gerados 30 quilos de resíduos – bagaço, gavinhas e borras, o que equivale a 210 mil toneladas por ano. O bagaço é constituído de casca, semente e engaço da uva. “Hoje, a indústria paga a outras empresas para retirar o engaço da sua planta. Parte do resíduo é vendida ou doada como fertilizante. Algumas processadoras vendem o tartarato, composto que é formado na fabricação do vinho. Mas, de um modo geral, ainda não há um aproveitamento importante do bagaço”, disse.
O uso de resíduos da agroindústria está dentro do conceito de Química Verde, que prevê a redução da poluição nos processos químicos e o aproveitamento máximo da matéria-prima, minimizando ou eliminando a geração de poluentes. As estratégias de desenvolvimento da Química Verde no Brasil foram traçadas pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e publicadas no texto Química Verde no Brasil: 2010-2030.
Mesmo sendo de fonte natural, a matéria orgânica gerada na decomposição do bagaço de uva pode se proliferar e contaminar o ambiente. “Além da grande quantidade de resíduos gerados, em torno de 16% do total de frutas processadas, eles são produzidos durante curto espaço de tempo (a safra da uva dura aproximadamente três meses) e apresentam características poluentes como baixo pH e elevados teores de compostos que resistem à degradação biológica”, explicou Lourdes.
Por outro lado, de acordo com a a pesquisadora, a composição é rica em fibras, proteínas e compostos fenólicos, com potencial de gerar produtos inovadores e funcionais. “O principal desafio desse tema é gerar processos tecnicamente viáveis, mas que sejam economicamente competitivos. Como consequência da demanda dos consumidores por produtos naturais, as indústrias são pressionadas a buscar alternativas aos aditivos químicos, incrementando o uso de aditivos naturais, que, por meio do conceito de aditivos multifuncionais, agregam valor a esses produtos”, destacou.
Apesar dos benefícios encontrados e dos produtos desenvolvidos, ainda não existe parceria concreta com a iniciativa privada para a produção do extrato – apenas uma indústria de ingredientes para cosméticos mostrou algum interesse, disse Lourdes. (Agência Brasil)