Diante de um copo de pisco

 

pisco-1

 

Fiquei surpresa com o ataque
enquanto distraída olhava o céu limpo e sem estrelas,
como um mar escuro e calmo.
Fiquei surpresa com a sombra de um casal de namorados
ao final do corredor.
E voltei rápido com medo de que fosse surpreendida.
As luzes da rua distantes embaçavam-me a vista
e eram como pedaços de fogo,
velhos e distantes,
pedaços de incêndio nessa quietude do universo.
De longe soavam como um aviso de perda,
um aviso de lugar ou de destino.
Imóveis se punham em movimento
para ainda uma vez
permanecerem imóveis,
como aquelas lembranças por ora estáticas, feito corpos embalsamados
tranquilos e quietos,
preparando o instante lascivo de explodirem.
Mesmo todos os cadáveres agora silenciam
e na noite quente desaparecem,
fogem quase imaculados,
deixando-me a sós diante de um copo de pisco
ávido por ser tomado, saboreado, sorvido.


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