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Pesquisador questiona construção de fábrica de mosquito transgênico em Campinas

Por Fernando Lorenzetti, especial para o Carta Campinas –

Por mais estranho e surrealista que possa parecer é verdade. A cidade de Campinas é a segunda cidade do mundo a contar com uma fábrica de mosquitos. Isso mesmo – uma indústria, de verdade, de mosquitos fabricados em série. A pretexto de combater a dengue, autoridades decidiram liberar, no Brasil, a comercialização de mosquitos geneticamente modificados. A indústria inglesa Oxitec já está instalada em Campinas, a quatro quilômetros de Barão Geraldo, situada em condomínio empresarial às margens da Rodovia Anhanguera. Por coincidência a fábrica está próxima da região com maior incidência da doença no último Verão.

A nova temporada de Verão está aí, e consequentemente, a dengue. Campinas foi cenário de uma grande calamidade e críticas à Saúde. Ocorre que existem controvérsias científicas para a liberação de mosquitos trans na atmosfera. Parte da comunidade científica e, ecologistas, são frontalmente contra a ideia de funcionamento de uma indústria com esta finalidade, qual seja, – produção de 16 milhões de mosquitos por semana para supostamente combater mosquitos Aedes Egypt. O Instituto Max Planc da Alemanha acusa as autoridades de não terem entregue informação completa a respeito do tema, tampouco realizado estudos de impacto ambiental.

José Maria Gusman Ferraz lidera a corrente contrária a instalação da indústria de mosquitos na cidade de Campinas. Gusman Ferraz cursou pós-doutorado em Agroecologia pela Universidade de Córdoba, na Espanha; é pesquisador aposentado da Embrapa Meio Ambiente, pesquisador convidado do Laboratório de Engenharia Ecológica da Unicamp e diretor da Associação Brasileira de Agroecologia, além de professor do curso de mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

A reportagem conversou com Gusman Ferraz, que se mostra inconformado: “O campineiro não pode servir de cobaia para testes mundiais imprevisíveis. Não existe fábrica de mosquitos em nenhum país do mundo, por que Campinas tem que ser premiada?”, questiona. “É imprevisível saber os impactos negativos desta liberação quais e quantas doenças um mosquito geneticamente modificado pode transmitir no futuro, além do que, isso com certeza vai afetar de maneira irreversível a saúde das pessoas e todo ecosistema”.

Ferraz faz críticas e acusações à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança  (CTNBio) – órgão de apoio ao governo federal responsável pela política nacional de Biosegurança, e desdenha da forma como foram autorizadas a produção e comercialização de mosquitos. “O prefeito Jonas Donizette não pode concordar com essa monstruosidade e abrir uma fábrica de mosquitos na cidade”.Tentamos através do Luis Lauro ampliar o debate e impedir o funcionamento da fábrica, mas não obtivemos resposta”, diz.
Embora a empresa Oxitec alegue ter feito testes nas Ilhas Cayman e na Bahia, os ecologistas colocam em dúvidas os resultados e, consideram que não são suficientes para a abertura da fábrica, tampouco os testes realizados no Brasil seriam conclusivos.

Testes na Bahia
A ONG Moscamed funcionaria como um braço da indústria Oxitec, de Campinas. Na Bahia os testes foram realizados pela Moscamed, que promoveu solturas de milhões de mosquitos transgêncios na cidade Juazeiro e de Jacobina. A pesquisadora responsável pela experiência, Margareth Capurro, defende o uso dos mosquitos transgênicos. Ela vem afirmando que a incidência da doença diminui na cidade de Jacobina após os testes realizados durante todo ano de 2013.

Mas a afirmação de Capurro contrasta com outra realidade. Mesmo após a soltura de mosquitos trans, o prefeito de Jacobina, decretou na cidade, em fevereiro de 2014, situação de emergência no município, em razão da situação anormal caracterizada como desastre biológico em razão da epidemia de dengue, – o que em tese pode comprovaria eventual fracasso no uso dos mosquitos geneticamente modificados para combater a doença.

O cientista José Maria Gusman Ferraz questiona o tratamento concedido à questão da Biotecnologia no Brasil e, a forma como vem sendo conduzida. Curiosamente a Fundação Bill e Melinda Gattes, ligada ao bilionário Bill Gattes, vem apoiando os estudos. De fato Bill Gattes parece ter tanto interesse nessa nova indústria que, em seu blog, postou no dia 28 de abril deste ano, que o mosquito é o animal mais perigoso do planeta. Foi além, fez um gráfico, aqui reproduzido, para justificar o terror que promove. Mas afinal, cender mosquito deve ser mesmo um negócio da China.

A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a liberação comercial do mosquito transgênico. Caberá à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitir autorizações e registros para o uso em campanhas de saúde pública. A tecnologia consiste em produzir em laboratório mosquitos machos com dois genes diferentes do Aedes aegypti original. Fêmeas que vivem na natureza e cruzam com esses espécimes modificados geram filhotes que não conseguiriam chegar à fase adulta.

A Oxitec Responde
Quais variações de mosquitos sao produzidos na Inglaterra?
A Oxitec tem diversas linhagens de mosquitos no seu laboratório de pesquisa e desenvolvimento na Inglaterra. Apenas a linhagem de mosquitos OX513A de Aedes aegypti é produzida nesse momento para uso no campo. Temos ainda outros linhagens de Aedes aegypti e Aedes albopictus que estão sendo testadas neste laboratório.

Qual o volume de produção no Reino Unido? Há quanto tempo a fábrica existe lá?
O volume de produção depende dos projetos no campo e de testes internos. Não divulgamos esse quantidade. A Oxitec tem desde a sua fundação uma ou mais unidades de produção. Com o passar dos anos, elas mudaram de local e nos próximos anos continuarão a mudar. A situação atual está descrita na resposta acima.

A Moscamed é uma OS e é um braço da Oxitec ? De que forma elas atuam juntas ?
A Moscamed é uma parceira da Oxitec que liderou os ensaios de campo em Juazeiro (em parceira com a Universidade de São Paulo (SP) e atualmente está fazendo um projeto em Jacobina (BA). Não há nenhuma relação societária entre as duas empresas.

Qual a redução da doença onde houve liberação de mosquitos. Não a redução da população do mosquito, mas da incidência de dengue?
A solução da Oxitec é uma ferramenta para combater o mosquito da dengue (Aedes aegypti), e não para combater a doença dengue. O Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD) e outros órgãos responsáveis pela prevenção da dengue no Brasil gastam bilhões de reais todos os anos tentando reduzir as infestações do mosquito da dengue porque acredita-se que haja uma ligação entre a quantidade desses mosquitos e o número de casos da doença. Infelizmente essa relação não é bem entendida, embora exista, independentemente das ferramentas que são utilizadas para reduzir a infestação do mosquito da dengue. A Oxitec fez um estudo para medir a quantidade desses mosquitos adultos nas áreas tratadas em seus ensaios no Brasil e verificou que esse número chegou a um nível muito baixo após a liberação do OX513A. Este nível está, inclusive, muito abaixo do nivel teórico de transmissão da dengue. (Focks D et al. Transmission thresholds for dengue in terms of Aedes aegypti pupae per person with discussion of their utility in source reduction efforts. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, 2000).

De que forma vai ser feita a comercialização, por volume de mosquitos? Existe uma tabela? Qual a base de preço?
O modelo de negócios da Oxitec ainda está evoluindo. Nesse momento pretendemos vender, após a obtenção do registro comercial, um serviço de supressão e um serviço de manutenção. A Oxitec está sempre trabalhando para reduzir os custos desses serviços. Uma estimativa atual do preço para o serviço de supressão está entre R$ 2 milhões e R$ 5 milhões para uma cidade de 50 mil habitantes. Após a supressão, a fase de manutenção custará menos do que R$ 1 milhão por ano.

Quantos países do mundo possuem fábricas de mosquitos da Oxitec e que contam com autorização do governo para liberação, não apenas para testes em laboratórios?
No Brasil, a Oxitec tem uma fábrica própria e uma parceira que também produz os mosquitos, a organização social Moscamed. No Panamá, os mosquitos são produzidos pelo Instituto Gorgas com suporte técnico da Oxitec, e um projeto de supressão do mosquito da dengue está em andamento. Testes de campo com o OX513A, autorizados pelos respectivos governos, já foram feitos na Malásia e nas Ilhas Caiman. A Oxitec tem também uma fábrica na Inglaterra que pode prover ovos para projetos em outros países , como acontece atualmente com o Panamá.

Em quais cidades do Reino Unido onde os mosquitos da fábrica inglesa foram soltos e testados?
Os mosquitos da Oxitec são produzidos e testados no laboratório, mas não liberados, na cidade de Abingdon, perto de Oxford, na Inglaterra.

Prefeitura de Campinas diz que fábrica de mosquitos “tem tudo a ver com a cidade”

De acordo com o site da Prefeitura, a empresa Oxitec foi inaugurada oficialmente no dia 27 de julho. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo, Samuel Rossilho, representando o prefeito Jonas Donizette (PSB), descerrou a fita da inauguração da empresa britânica Oxitec, instalada no condomínio empresarial TechnoPark, em Campinas. “Campinas se sente honrada por receber a primeira unidade da Oxitec no Brasil. Estamos esperançosos pela tecnologia da empresa, que tem tudo a ver com a vocação da cidade: a ciência, a tecnologia e a inovação. É de grande importância e interesse para a cidade que empresas como esta se instalem no município”, disse Samuel Rossilho.

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