A organização Médicos sem Fronteiras (MSF) recusou o dinheiro doado pelo governo australiano e apelou às autoridades para que enviem pessoal de saúde à África Ocidental para combater o ebola.
“A MSF simplesmente não tem capacidade para fazer o trabalho sozinha. Estamos recusando gente nas nossas clínicas, que operam há semanas acima da sua capacidade”, informou a organização em comunicado divulgado hoje (2) pela imprensa local.
O governo de Canberra ofereceu aos Médicos sem Fronteiras verba de US$ 2,2 milhões, mas a organização não governamental pediu apoio de pessoal, por considerar que poderia ter “um impacto muito significativo” nos esforços de combate à doença.
“Até uma dúzia de pessoas capacitadas – que possam supervisionar as equipes locais na gestão do centro de isolamento, ajudar na detecção de casos e em medidas de controle do surto – poderiam salvar milhares de vidas”, acrescentou a MSF.
A organização diz que as limitações logísticas impedem o aumento da ajuda em países como a Libéria, Serra Leoa ou a Guiné-Conacri, os três mais afetados.
“A Austrália deve parar de dar desculpas para se unir na luta contra o ebola (…). Países como a Austrália, com capacidade para fazer a diferença, estão olhando para o lado, para evitar responsabilidade, e recusam-se a enviar o próprio pessoal para ajudar”, diz a MSF em comunicado.
Em seis meses, o número de mortos em consequência do ebola, sobretudo na África Ocidental, já ultrapassou os 3 mil, ou seja, cerca de metade dos 6.500 casos registrados, segundo a Organização Mundial da Saúde.
EUA monitoram pessoas com contato com o vírus
O primeira atendimento hospitalar à pessoa que recebeu diagnóstico de ebola nos Estados Unidos, no estado do Texas, não foi feito de maneira adequada quanto ao repasse de informações sobre sua chegada da Libéria. A declaração do diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças infecciosas (Niaid, sigla em inglês), Anthony Fauci, à imprensa americana, na noite dessa quarta-feira (1º), confirmou as especulações já mencionadas por veículos de comunicação no país.
Agora as autoridades querem saber se o paciente, supostamente liberiano, teria tido contato nos dias em que não estava isolado. O governo admite que cerca de 20 pessoas podem ter tido contato com o paciente, cinco delas crianças.
“O histórico de viagem [protocolo de informações sobre a chegada recente da Libéria] foi feito, mas não comunicado de forma adequada. Foi um erro, o hospital deixou a peteca cair”, disse Fauci em entrevista exibida pela rede americana CNN.
Ele lembrou que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, sigla em inglês) foi rigoroso ao enfatizar a importância do histórico de viagem adequado. Funcionários do hospital em Dallas teriam confirmado que não foi feita a “devida comunicação ao médico” sobre o histórico do paciente.
A viagem à África foi supostamente comunicada à enfermeira que o atendeu, mas segundo o diretor do Niaid, isso não teria chegado ao médico. O homem, então, foi submetido a exame de sangue básico, mas não ao teste que detecta o ebola.
Mais cedo, Edward Goodman, o médico infectologista do Hospital Presbiteriano do Texas, em que o paciente está internado, disse à imprensa que, no primeiro atendimento, a pessoa apresentava febre baixa e dores abdominais. “Essa condição não requeria internação e ele também não apresentava sintomas específicos do ebola”, afirmou o médico. “Ele foi enviado para casa com antibióticos”, acrescentou.
No entanto, três dias depois, o homem regressou ao hospital e aí sim foi isolado com suspeita de contaminação por ebola. As autoridades de saúde americanas, do CDC e do Niaid investigam agora onde ocorreu o erro. A suspeita é de que a enfermeira que atendeu o paciente na primeira atenção não tenha feito a observação da viagem.
O hospital se defendeu, durante entrevista com o governador do Texas, Rick Perry. “Seguimos todos os protocolos do CDC sugeridos na época. Nossa equipe é exaustivamente treinada em procedimentos e protocolos de controle de infecção”, informou o médico do hospital nessa quarta-feira.
O protocolo do CDC recomenda que todos os serviços médicos devem perguntar aos pacientes, com sintomas compatíveis com o ebola, sobre seu histórico de viagem.
Apesar de apontar o erro que o hospital teria cometido, o diretor do Instituto de Infecções contemporizou: “Sabemos que, em departamentos de emergência em todo o país, as pessoas não podem pedir históricos de viagem. Isso não foi feito corretamente neste caso, mas precisamos ter certeza de que ele será feito daqui para a frente.”
A imprensa americana também especula sobre a identidade do paciente. Um amigo o apresentou como Thomas Ducan, liberiano, de 42 anos, que teria amigos nos Estados Unidos. Esta é a primeira viagem dele ao país para visitar parentes e amigos. Apesar disso, nem o hospital nem o governo se referem ao paciente pelo nome apresentado.
A Libéria é um dos países mais afetados pelo surto que atinge o Oeste africano. São 3.458 casos e 1.830 mortes confirmadas até o dia 23 de setembro, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O CDC enviou sete agentes para Dallas a fim de rastrear o contato do paciente com outras pessoas. Até o momento, a informação é de que ele tenha tido contato com até 20 pessoas e que pelo menos cinco são crianças.
O governador não confirmou a informação do diretor de Serviços de Saúde de Dallas, Zachary Thompson, que disse à imprensa que um segundo caso havia sido diagnosticado e que o paciente já estava sendo acompanhado pelos médicos.
O período de incubação da doença varia de dois a 21 dias, mas o período infeccioso só começa quando surgem os primeiros sintomas de contágio (dores de cabeça, febre e vômitos).
Enquanto a possibilidade de propagação do vírus em território americano preocupa a população e coloca em alerta as autoridades, na África a OMS informa que já foram registradas quase 4 mil mortes em consequência da doença.
Em Acra, capital de Gana, Anthony Banbury, chefe da Missão da ONU para o Ebola fez um alerta e pediu que o mundo comece a agir agora para parar a epidemia. (Agência Brasil)
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