Em favor de valores materiais, em favor de consumir e possuir, deixei de valorizar e beleza das coisas que não se tem que ter.
Em favor de uma convenção social, deixei de me vestir como gosto, deixei de dar risadas em público e deixei de me divertir com desconhecidos.
Em favor de competir, deixei de dar valor à vida dos outros.
Em favor de seguir leis às quais fui dissuadido de questionar, deixei de saber que sou livre.
Em favor de acreditar num paraíso após a morte, subestimei a grandeza da vida.
Pelos ensinamentos familiares que moldaram o cérebro da criança que fui, tenho muita dificuldade em aceitar os motivos das pessoas que receberam outros tipos de ensinamento e me tornei intolerante.
Em favor de seguir dogmas religiosos, rotulei, injustamente, muitas pessoas de pecadoras nefastas.
Por ver meu semelhante como um rival e por crer que as pessoas me prejudicarão na primeira oportunidade que tiverem, não consigo confiar nelas.
Por viver neste mundo competitivo, não assumo minhas imperfeições e estou sempre buscando listar imperfeições alheias.
A fim de transmitir uma imagem de retidão e seriedade, me tornei inflexível com alguns e hipócrita com outros e comigo.
Esqueci-me de que fui mau algumas vezes e passei a desejar a morte de pessoas que considero más, mesmo sabendo que às vezes, julgo injustamente.
Pelo fato de usar minha força de trabalho e meu tempo a fim de gerar riquezas materiais, me tornei uma engrenagem desse mecanismo que troca vidas por coisas.
Por desconhecer a magnitude da liberdade, não fiz da utopia o meu caminho.
Por temer que cada ser humano tenha o direito de fazer o que quiser de sua vida, deleguei a outros seres humanos o direito de fazerem o que quisessem de minha vida.
Por considerar as pessoas perigosas ou estúpidas, me vi superior a elas e deixei de enxergar em cada uma um ensinamento de vida. Não pude notar que cada uma tem o direito de evoluir e que para isso, precisa viver plenamente.
Por gritar aos sete ventos que busco a mudança, mas por temê-la, cravei meus pés no solo do passado, evitando os reais questionamentos à ordem atual.
Em favor de minhas convicções políticas, aprendi a odiar seres humanos como eu, perdi amigos, a chance de criar novas amizades, semeei ofensas e humilhação.
Por tudo isso, sou infeliz e angustiado. Por esperar dos bens materiais que ajudo a produzir e que busco afoitamente e da competição desumana, uma satisfação plena, que não percebo, jamais chegará por esses meios.
Por não ter coragem de mudar meus valores e por acreditar que a felicidade de viver em um mundo livre é inalcançável, delego a responsabilidade por minha felicidade, gritando “A mudança é Aécio!” ou “Dilma, para o Brasil seguir mudando!” e crio aversão por quem grita diferente de mim. Os responsabilizo pelos meus problemas sociais que logo se tornam pessoais.
Mas meu amigo diz que minha felicidade não depende nem do Aécio e nem da Dilma. Diz que depende de outra mudança, depende de eu me transformar. Meu amigo diz que não vale a pena me impacientar, odiar e me afastar de pessoas que têm muito a me ensinar. Não vale a pena defender uma mudança que não é mudança e sim um atoleiro. Meu amigo diz que brigar por essa ilusão está ficando antigo e que logo muitas pessoas entenderão de que forma suas transformações pessoais poderão transformar a sociedade. Meu amigo diz que, não importa quem vença, jamais será capaz de destruir o sonho de justiça e liberdade que vive dentro de cada ser humano. Meu amigo diz que ser feliz pode levar muito tempo, ou não… mas só depende de mim.