Entre mulheres, gatos, músicos e outros personagens que conservam algo de caricatural, as telas do artista trazem uma explosão de cores e uma variedade de formas, como se cada conjunto de trabalhos representasse um estilo e um universo particular, revelando, ao mesmo tempo, o desejo do artista em reinventar-se e alcançar novas formas de expressividade.
Há um conjunto de imagens, por exemplo, em que vemos mulheres cujo olhar voltado para fora da tela guarda e propaga certo mistério compartilhado pelo feminino e que o artista, em sua sensibilidade, soube capturar. Ornadas com chapéu, belos vestidos, às vezes com cigarros e um copo de bebida, outras apenas com o corpo nu, que ainda cede à presença de um chapéu ou mesmo de um longo e farto cabelo, as mulheres do artista parecem chamar tantas outras mulheres que, ao longo dos séculos, invadiram a arte e a própria história (caso da tela que traz uma representação de Helena de Troia) e nela manifestaram sua forte presença. Os quadros, de traços simples e livres, enchem os olhos com as cores vivas e, em algum deles, se percebe algo daquela liberdade impressionista de Van Gogh, como no quadro que traz uma mulher segurando com uma das mãos uma bicicleta e, com a outra, empunhando um girassol no alto, amarelo, vivo, a confundir-se com o próprio sol.
Das mulheres chega-se aos gatos quase sempre representados de costas, ressaltando suas formas igualmente misteriosas e fascinantes. O gato não nos fita, se dirige para algo além de nós, e é como se os quadros fizessem viver todo o universo particular desse animais fugidios, rápidos, escorregadios. Um deles, assim como as mulheres, também segura uma garrafa de bebida, e, quase humano, contempla os abertos horizontes.
Outros personagens, quase infantis, se insinuam por meio de novos traços e estilos nos quadros de Stegun. Assim temos um pirata risonho, velho marujo que depõe os binóculos para também nos olhar, e outros dois personagens que, em movimento, se mantêm atentos em um destino que só eles podem divisar.
Artista visual, caricaturista e publicitário, Renato Stegun nasceu em Campinas e estudou desenho e pintura no Estúdio Paulo Branco. Desde 2000, trabalha com ilustrações (editoriais e publicitárias) e humor gráfico (caricatura, charge e cartum), com domínio na produção de trabalhos tanto em técnicas convencionais (aquarela, acrílica, lápis de cor etc) como digitais (vetoriais e bitmaps). O artista possui mais de 90 exposições no Brasil e exterior (Irã, Romênia, Coreia do Sul, França e Espanha), incluindo trabalhos selecionados e premiados em salões de humor.
A variedade de suas formas e estilos produziu aquilo que o artista denomina de “Séries” em sua pintura. “Uma curiosidade de meu trabalho é a inquietação no que se refere ao estilo. Eu sempre estou mudando bastante de uma série para outra. Isso vem comigo desde quando produzia somente caricaturas, já era assim. Cada vez eu mudava radicalmente o estilo. Sempre sinto essa necessidade na minha produção”.
Em suas mudanças e inquietações, Renato Stegun constrói uma arte que sempre surpreende, viva, explosiva, simples, multicor e multiforma, particularmente moderna e meditativa. (Maura Voltarelli)