Marina Silva parece light, quer dizer, política, da velha política (não da nova, isso é marketing). Ela está sempre disposta a uma negociação. Pelo menos ela tenta fazer isso. Tenta criar o seu próprio marinismo, uma espécie de lulismo mais à direita, conciliadora, “união”, blá blá, etc.
É por isso que Marina não parece uma ameaça eminente para o Estado laico brasileiro. Mas o seu governo deverá facilitar em muito fundamentalismo religioso na política brasileira. Na verdade, Marina só poderá antecipar um pouco o poder que inevitavelmente terão os pastores fundamentalistas de direita nas próximas décadas.
A extrema direita cristã já se apresenta com uma grande força política no país. Isso foi facilitado nos últimos anos pela satanização do PT pela elite, de forma grosseira e radical com pitbulls ladrando na imprensa como loucos. Grupos que antes tinham até certa vergonha de se manifestarem, tamanha a culpa e a desonestidade de suas ideias, agora querem o poder. Ao lado de Marina Silva, haverá inevitavelmente uma ascensão econômica e política ainda maior de pastores de extrema direita, os que professam as conhecidas bandeiras da tradição, da família e da propriedade.
Com liberdade econômica e financeira, isenção de impostos, seitas e religiões de todos os matizes pipocaram e algumas tiveram grande sucesso econômico durante décadas. O sistema continua da mesma forma. Esse é o grande salto evangélico depois de anos de organização social e ascensão. É uma segunda fase. A primeira fase foi durante a ditadura, que foi financiada por esta mesma elite para manter a desigualdade social e econômica intacta. O golpe de 64 foi bem sucedido: o Brasil se transformou em um bolsão de miseráveis, abandonados pelo Estado. E foi nesse contexto que se deu o crescimento das igrejas evangélicas e a semente da extrema direita cristã.
Com uma rede de igreja bem organizada, a segunda fase já pode ser realizada. É possível e fácil colher assinaturas e fazer inúmeros partidos políticos fundamentalistas que já recebem dinheiro público do fundo partidário e aumentam seu poder no Estado. Em resumo, o Brasil já está pagando dízimo para os pastores, mas vai pagar com a alma. Até alguns pastores mais lúcidos já estão pedindo a Deus que nos livre dos evangélicos. Veja abaixo:
Pastor pede a Deus que livre o Brasil de Evangélicos (no Poder)
Uma importante eleição acontecerá em breve. Há algum tempo, preocupado com o ideário político do movimento evangélico, escrevi
Deus nos livre de um Brasil evangélico. O texto, obviamente, suscitou opiniões diversas. Igrejas, envolvidas com o poder e tomadas por ambições messiânicas, chiaram. Crentes, fascinados com propostas messiânicas de transformar o Brasil em uma república cristã, reagiram com raiva. Nem menciono americanófilos — eles acreditam que Deus elegeu os Estados Unidos como farol sobre a colina para revelar ao mundo um modelo de nação justa e igualitária.
A revista eletrônica Huffington Post publicou um
texto de Geoffrey R. Stone, professor de direito da Universidade de Chicago. Stone se deparou com uma lista dos dez Estados com maior índice de pessoas que se consideram religiosas na América. Com exceção de Utah, mormóm, todos os outros fazem o cinturão bíblico, o chamado
Bible belt. Portanto, Estados com predominância evangélica. Por ordem, são: Mississippi, Utah, Alabama, Louisiana, Arkansas, Carolina do Sul, Tennessee, Carolina do Norte, Georgia e Oklahoma.
Stone pesquisou o que essa maciça presença evangélica significa nesses Estados do sul. Sua descoberta estarrece:
— Nove dos dez Estados mantiveram escolas racialmente segregadas até a decisão da Suprema Corte de aboli-las em 1954.
— Cinco dos dez estados continuam como os piores na insistência de manter segregação racial nas escolas públicas.
— Oito dos dez estados constam nas lista dos onze com maior população carcerária.
— Todos os dez estados têm pena de morte.
— Sete dos dez estão entre os dez com mais alta percentagem de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.
— Sete dos dez Estados constam como os nove piores com obesos e obesas.
— Nove dos dez Estados fazem parte dos vinte com maiores índices de fumantes.
— Sete dos dez Estados foram ranqueados entre os dez com a pior condição de saúde.
— Nove dos dez Estados constam entre os treze piores na expectativa de vida.
— Sete dos dez Estados têm os piores níveis nacionais na qualidade de serviço médico.
— Cinco dos dez Estados são os únicos estados americanos sem leis de salário mínimo.
— Todos os dez participam das listas dos piores salários mínimos americanos.
— Nove desses dez Estados estão na lista dos dezoito piores com gastos em educação pública.
— Nove dos estados foram inseridos na lista dos vinte piores no quesito qualidade da escola pública.
— Nove desses dez estados constam dos vinte piores nos índices de morte provocada por arma de fogo.
— Cinco dos Estados constam entre os dez em que mais cidadãos veem pornografia na internet.
No Brasil seria diferente? Acredito que o melhor dos mundos que políticos evangélicos moralistas prometem pode não acontecer. Pelo contrário, com o histórico já bem documentado da fragilidade ética dos líderes e com a falta de senso crítico dos seguidores, caso o avanço do neopentecostalismo continue e mais grandes empresas da fé comprem horário na televisão, o pior ainda está por vir. Infelizmente.
Ricardo Gondim, pastor da Igreja Betesda (Do Contexto Livre)
Com raras exceções, é mais fácil haver honra entre ladrões que honra entre políticos. O Brasil, com o sistema vigente, se o presidente for sério e desejar ser independente, o país se torna ingovernável. Isto porque, desde eras que remontam a antes do Império, sempre vigorou o “toma lá dá cá”. Colocando a situação no contexto da atual corrida presidencial, onde temos as Sras. Dilma e Marina e o Sr. Aécio, temos plena consciência de que nenhum dos que pleiteiam a presidência, possuem maioria no Congresso. Daí serem indispensáveis as alianças, com Deus e o Diabo. Já sabemos como funciona: O presidente deseja aprovar o orçamento ou algum projeto, terá que passar pelas inevitáveis “negociações” e “alianças”. E, como em princípio, o político brasileiro – salvo honrosas exceções, torno a dizer – é corrupto, sua bancada concederá o indispensável apoio à presidência desde que lhe sejam concedidas, em contrapartida, diretorias da Petrobrás, do Banco do Brasil, Previdência Social e por aí vai. Já no cargo, o “felizardo” mete a mão no dinheiro público, surgem os escândalos e o oportunismo da nossa imprensa de interesses escusos. Não há de se querer encontrar virgens num prostíbulo. Vejo, com pesar, candidatos da oposição prometerem coisas que sabemos de antemão, não serão capazes de cumprir. No caso específico de Da. Marina Silva é de causar constrangimento escutar-lhe as promessas estapafúrdias que são natimortas. Sob a capa de moralidade evangélica, temos uma candidata radical que assusta até seus pares protestantes. O Brasil é um país laico. Deus nos livre de termos nosso país governado por fanáticos, seja qual for a tendência. Não desejamos Evangélicos ou Católicos radicais nos dirigindo. Face ao que se expõe, resta-nos a única alternativa existente que seria a continuidade da atual presidência. Pelo menos já temos experiência com ela, sabemos para onde vai, a governante é séria. Não tendo como atacá-la diretamente por ser pessoa honesta, honrada e íntegra, a oposição procura apegar-se a “escândalos” que, embora indesejáveis, não foram atacados com a mesma sanha nos governos anteriores, boatos difamatórios sem fundamento e baixarias na Internet, tudo isso com intenções eleitoreiras. Conhecemos as deficiências do Brasil (desigualdade social, Educação, Segurança Pública, Saúde Pública, etc.), que são fruto do desmantelamento do Estado ao longo de décadas de descaso e desvio de dinheiro público, mas que a oposição deseja resolvidos num passe de mágica, em dois ou três mandatos. O Sr. Aécio, por sua vez, afigura-se-me um “pavão misterioso”. Praticamente desconhecido fora de Minas e já envolvido em controvérsias (como o do Aeroporto denunciado pela imprensa) pipocando… Isto, antes de mandar no Brasil. Se assumir, estamos perdidos. O que digo parece discurso de petista mas para mim é a voz do bom senso. O Brasil, com a oposição que aí se apresenta, está em situação de indigência.
Francisco Luciano