O professor aposentado da USP, Boris Vargaftig, enviou uma carta à reitoria da Unicamp, no último dia 11, renunciando ao título de Doutor Honoris Causa recebido em 1991. A medida é um protesto à recusa do Conselho Universitário daquela universidade em anular o título também concedido ao Coronel Jarbas Passarinho, em 1973, durante a ditadura militar.
Boris Vargaftig, aposentado atualmente, foi pesquisador, professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. A recusa de Wargaftig é considerada também uma “manifestação contra as medidas autoritárias movidas pela Unicamp, e também pela USP, contra as greves, as perseguições a ativistas e à própria estrutura antidemocrática das universidades”. Vargaftig é militante histórico e atualmente integra as fileiras do PSTU,
Leia abaixo a carta enviada pelo professor ao reitor da Unicamp.
“Ao Professor Doutor José Tadeu Jorge
DD. Reitor da Universidade Estadual de Campinas
Senhor Reitor,
Tomei conhecimento da recusa do Conselho Universitário da Unicamp em anular o título de Doutor Honoris Causa que havia sido concedido ao Coronel Jarbas Passarinho em 1973, durante a ditadura militar, em condições que podemos imaginar. Em 1991, fui honrado por igual distinção pela Unicamp e guardei até o presente momento com gratidão esta lembrança (e o diploma assinado pelo Professor Carlos Vogt, Reitor de então).A recente recusa em anular a honraria outorgada ao ex-Ministro da Educação do governo do General Emilio Garrastazu Médici confirma a evolução retrógrada da política brasileira em curso, que as universidades públicas seguem, não só em em relação ao exercício do direito de greve e à liberdade de manifestar, como também na manutenção de sua estrutura anti-democrática e nos processos (como estão em curso na USP), além de outras aberrações. A proposta de unidades de ensino dessa Universidade que visavam fazer justiça – já que outras medidas de justiça não ocorreram ainda – foi rejeitada por apenas um voto: 50 a 49 votos, mais 10 abstenções e 10 contrários. Certamente, uma nova discussão nesta mesma reunião – pela importância do tema – teria permitido reverter tal decisão.
Recuso-me a continuar a acompanhar o Coronel repressivo, ex-Ministro da Educação e responsável por tantos desmandos e arbitrariedades. Por essa razão, respeitosamente, comunico-lhe minha decisão de devolver o título de Doutor Honoris Causa que muito me honrou, mas a partir de agora passa a ser o contrário. Se não o fiz anteriormente, foi porque simplesmente ignorava que tal homenagem havia sido concedida a essa personagem da ditadura militar.
Com meus cumprimentos,
Boris Vargaftig
Professor titular da USP (aposentado)” (Carta Campinas com informações do site do PSTU)
Leio nesse blog a renúncia do professor aposentado da USP, Boris Vargaftig, da Unicamp, ao título de “Doutor Honoris Causa”, recebido em 1991, tendo em vista a recusa daquela Instituição em revogar semelhante honraria concedida ao coronel Jarbas Passarinho em 1973, ícone da ditadura militar. Bem verdade que não era passarinho que se cheirasse. Acredito que o protesto teria impacto na época, quando ninguém ousava contestar a ditadura. Hoje soa bravata, somente os mais idosos passaram pelas agruras de Castelo a Figueiredo, os jovens ignoram o assunto. Foram 25 intermináveis anos. O professor viveu este tempo, e não esqueceu. O mal falado Passarinho foi ministro da educação do governo Médici se não me falha a memória, dentre outros ministérios que exerceu. Porisso acho a atitude do professor pendular entre a valentia e a provocação. 24 personalidades receberam esse título, numa escolha bastante eclética que vai de Dom Paulo Evaristo Arns, que combateu a ditadura valentemente ao Passarinho que combateu pela ditadura. O pedido é extemporâneo, Passarinho ainda está vivo, desejando criar um impasse.
Dizem os livros de História que na Alemanha de Hitler, quando nem os generais ousavam contestar qualquer ordem do Führer, Hitler insultou os integrantes da famosa 1ª Divisão SS, Leibstandarte SS Adolf Hitler. As tropas alemãs traziam gravados na manga do uniforme o nome da unidade a que pertenciam. Esta unidade participou de batalhas em todas as frentes de combate na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, sempre se distinguindo pela bravura. Nos estertores da guerra, já bastante reduzida em seu contingente por baixas sofridas e enfrentando forças superiores, foi derrotada em 1945, na Hungria, e semi-destruída. Essa derrota causou a fúria de Hitler, que ousou chamar, nessa ocasião, a 1ª Divisão SS, Leibstandarte SS Adolf Hitler de covarde e a instou a retirar as braçadeiras com o nome do Führer nelas. A Divisão devolveu a ele todas as suas condecorações dentro de penicos, junto com o braço de um dos soldados mortos na ação, portando a braçadeira. Diante disso, sou de opinião que se o professor deseja recusar tal honraria, que o faça com estilo.