O professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, que fez uma pesquisa sobre a situação do Sistema Cantareira que abastece São Paulo e a região de Campinas, afirmou que houve uma gestão de alto risco, falta de planejamento e falta de investimento com relação aos recursos hídricos. “A água é um recurso vital para todos os seres vivos, para todos os fins. Não poderiam ter adotado medidas com interesse meramente comercial do setor da água”, declarou. Veja matéria sobre lucro da Sabesp.
Nesta segunda-feira (14), o nível nos reservatórios do Sistema Cantareira chegou a 18,2% da sua capacidade de armazenamento, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Todo o volume útil do sistema foi consumido e resta agora apenas o volume morto – reserva técnica, que era 18,5%.
Há um ano, o Cantareira trabalhava com 55,2% da sua capacidade total, contando apenas com o volume útil. Outro manancial paulista, o Sistema Alto Tietê, também registra queda significativa – o nível dos reservatórios está em 23,6% hoje, enquanto a capacidade era 63,4% há um ano. Em março, a Sabesp anunciou a redução da captação do Cantareira e a complementação dele por meio de outros sistemas, incluindo o Alto Tietê.
O Cantareira, além de abastecer 9 milhões de habitantes na grande São Paulo, atende a 5 milhões de pessoas nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Segundo o Consórcio Intermunicipal PCJ, que representa essas cidades, a situação crítica é claramente observada em rios como o Piracicaba. Enquanto a vazão normal desse rio para esta época do ano é, em média, 40 metros cúbicos por segundo, a vazão registrada hoje foi 9,6 metros cúbicos por segundo.
Estudo elaborado pela Universidade de Campinas (Unicamp), com financiamento do consórcio, mostra que o volume do Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias. O professor Antonio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da universidade, responsável pela pesquisa, acompanhou a situação dos reservatórios do sistema e alerta para a possibilidade de atraso no início do período de chuvas este ano.
“Não se pode garantir que [as chuvas] voltam em outubro. No ano passado, ela só veio na segunda metade de dezembro. Foram só 15 dias de chuvas normais ano passado. Não sabemos se [neste ano] vai voltar com normalidade ou se vai atrasar”, disse o especialista.
Zuffo defendeu uma redução na exploração da água e a implementação do rodízio como forma de garantir uma sobrevida do abastecimento. “Houve uma gestão de alto risco, o problema foi falta de planejamento, falta de investimento”, declarou.
Na semana passada, a Agência Nacional de Águas prorrogou até 31 de outubro de 2015 o direito de uso dos recursos hídricos do Sistema Cantareira para a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp). A outorga, concedida em 2004, tinha validade de dez anos e venceria no próximo mês. O sistema abastece cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. De acordo com a ANA, a renovação irá considerar esse período de escassez de chuva pelo qual passa o sistema. A extensão da outorga ocorre em meio à maior crise hídrica da história do Cantareira, que foi criado na década de 1970. A Sabesp, comandada pelo PSDB há 20 anos, garante o abastecimento até meados de março do próximo ano. (Agência Brasil/Carta Campinas)