Maternidade, de Tarsila do Amaral – 1938
Maternidade, Tarsila do Amaral (1938)

Neste silêncio estendido
e nas palpitações de uma espera
pela fala que não quero ouvir
de dentro de situações
que me repelem.

Afastam-se e afasto-me
daqui. Volto para as
rotinas intermináveis e
repetidas destes meus dias.

Volto para o lençol
nas manhãs desarrumado
para o insistente voo
dos pássaros e para
aquele café com leite

de todos os gostos
e de nada. Para a água
a enxaguar os pratos
junto com o sabor daquele
tempero ralo e ultrapassado.

Eis que se estende
generoso o silêncio
e volto a cobrir-me do
invencível pó a cerrar
meus olhos, a suspender
minha voz e prolongar

essa estação entre flores
e frutos. Volto para
a estante da sala
para a bagunça da casa
para aquele vão
onde não me encontro e
para onde nem sei se vou.