Os estudos desenvolvidos pela pesquisadora e médica veterinária Jeanette Trigo Nasser, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, apontam que Valinhos está entre os municípios com a maior densidade de casos de febre maculosa, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma cajennense).
Dos 244 registrados na RMC (Região Metropolitana de Campinas) entre 1998 e 2012 (período do estudo), a cidade confirmou 49 infecções pelo carrapato, representando um quinto do total, entre as 19 cidades. A letalidade foi de 42,9% na cidade, enquanto na região foi de 25%. Ela explica que por ser bastante entrecortado por rios, ribeirões e córregos, Valinhos está mais vulnerável à doença.
“O rio propicia condições ambientais muito favoráveis ao vetor, o carrapato, e ao hospedeiro da febre maculosa, no caso, a capivara e os cavalos, em geral. Estes animais se deslocam pelos rios e o carrapato precisa de mato e grama para colocar seus ovos. Quando o vetor coloca o seu ovo neste ambiente, estes eclodem e fazem todo o ciclo do ‘Amblyomma cajennense’.”
Outra tendência, bastante evidente em Valinhos, é a de urbanização da doença. De acordo com a pesquisa, há registros progressivos de casos na zona urbana, em locais próximos aos rios, pastos sujos e mata ciliar degradada. Jeanette Nasser relaciona, no entanto, que o padrão de transmissão da febre maculosa em Valinhos é semelhante ao descrito em outras cidades da RMC.
“Estudos têm mostrado que a doença vem ocorrendo em regiões até então não consideradas de risco para transmissão. Não mais se restringe às áreas rurais e de mata, estando com frequência em áreas periurbanas e urbanas, inclusive parques públicos. Isso sugere que está ocorrendo uma adaptação do ciclo da doença a este tipo de ambiente”, revela.
Ela complementa que em Campinas, por exemplo, a maior intensidade de casos foi observada em área central devido a um surto em pessoas que frequentaram uma lagoa no bairro Jardim Eulina. Em Pedreira, a área de maior densidade de casos corresponde também à região central da cidade, ao longo do rio Jaguari. “Observamos ainda um padrão sazonal na distribuição da doença ao longo do ano, com o maior número de casos de junho a novembro, com pico em setembro, período em que predomina o estágio de ninfa de ‘Amblyomma cajennense’”, acrescenta.
Em Campinas foram registrados, no período, 72 casos. O município vem seguido por Pedreira, com 27; Jaguariúna, com 18; Santa Bárbara D’oeste, com 14 casos; Vinhedo, 13; e Cosmópolis, 10. Engenheiro Coelho foi a única cidade que não registrou infecções no período. Além destas cidades, também compõem a RMC, Americana, Artur Nogueira, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Santo Antônio de Posse e Sumaré.
Os dados levantados pela pesquisadora também demonstram, entre 1998 e 2012, um crescimento dos casos e aumento no número de municípios com registros da doença. A quantidade de pessoas infectadas saltou de três, em 1998, para 25 em 2012, com o maior pico em 2011, com 29 casos. Nos três primeiros anos do período de estudo, apenas três municípios apresentaram registro: Pedreira, Jaguariúna e Campinas. Em 2003 foram cinco municípios, passando para 13 em 2006. Ao final de 2009, 16 cidades da RMC já haviam notificado casos. (Jornal da Unicamp/Carta Campinas)